09 abril, 2013

Eu e o Outro

Todos nós, independentemente de credo ou etnia temos direitos e deveres idênticos. A cor da pele não determina o caráter e a religião do indivíduo também não.

Dentro dos direitos e deveres temos a responsabilidade que é à base da ética. Gaarder (2005, pág. 290) nos diz que na sociedade agrária do passado, as responsabilidades eram mais óbvias, definidas com mais clareza. Se o pão tinha gosto ruim, a culpa era do padeiro; se as ferraduras do cavalo estavam mal colocadas e ele se machucava, era o ferreiro quem deveria assumir a responsabilidade por isso.

Já nos tempos modernos a responsabilidade é muito diferente, pois ela não é definida, todos nós somos responsáveis por tudo e por todos (se o pão não está bom, a responsabilidade é do padeiro, do ajudante do padeiro, do dono da padaria, do fermento, do trigo, de quem colheu o trigo, etc.). E a palavra solidariedade tem a ver com responsabilidade mútua, pois quando nós juntamos aos outros, compartilhamos a responsabilidade, a unidade e a afinidade mental.

A solidariedade é um requisito básico para a responsabilidade. Se não nos sentimos solidários, nossos horizontes éticos são demasiadamente limitados, afirma Gaarder.

O existencialista francês Jean-Paul Sartre que virou o determinismo de ponta cabeça, nos diz que nossas escolhas não são determinadas por quem somos, ou pelo que somos. Muito pelo contrário, ele diz que nós nos tornamos aquilo que escolhemos para nossas vidas.

Se o indivíduo tem atitudes baixas e mesquinhas, ele não se comporta assim porque tem uma disposição para esta ação. São suas ações baixas e mesquinhas que fazem dele um ser baixo e mesquinho. Segundo Sartre, o indivíduo é totalmente responsável por tudo o que faz, e por tudo o que deixa de fazer. Dize-me o que fazes, e te direi quem és!

Direitos e deveres, responsabilidade e solidariedade nos pressupõe também que devemos ter alteridade. E ter alteridade é ser capaz de aprender com o outro na plenitude da sua dignidade, dos seus direitos e deveres que permeia a sua diferença. Levinas nos apresenta a alteridade no outro, ou seja, somos responsáveis não só por nós, mas pelo outro também.

"Somos todos culpados de tudo e de todos perante todos, e eu mais ainda do que os outros" (Id, 2005).

Assumir esta responsabilidade pelo outro é para todo homem, segundo Levinas (2005) uma maneira de testemunhar a glória do infinito e de ser inspirado. Devemos ter consciência que somos parte do todo no um; como indivíduos semelhantes aos outros.

Muitos de nós, seres humanos, ainda não nos conscientizamos de que existe uma necessidade maior em nosso convívio diário que é a solidariedade, em favor de nós e não do eu. Uma solidariedade que podemos colocar em prática todos os dias, com nossos familiares,  nosso trabalho, nossa religião, no estudo, com amigos e muitos outros.

Não podemos nos permitir a manifestação de nossa solidariedade somente em catástrofe e grandes acontecimentos. Solidariedade e companheirismo andam juntos. Para a religião de Umbanda, as responsabilidades para com os outros nascem da própria existência deles; ver o rosto do outro e escutá-lo é arte de todo ser humano que sente e conhece o significado da palavra amor.

Portanto, que todos nós possamos fazer valer os nossos direitos e deveres não só no individual, mas no coletivo, na unidade.

Que sejamos responsáveis por nós e pelo outro com amor.

Que tenhamos alteridade como fator primordial em nossa caminhada e que a solidariedade seja praticada todos os dias. Que possamos respeitar o outro em sua totalidade, dialogando e escutando o outro.

Lembrando, que escutar também é ser solidário.


Texto enviado por Adriana Quadros - adrianaquadros@hotmail.com
Jornal Nacional da Umbanda

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