27 julho, 2012

Quem será ele?

Tudo pronto para mais uma gira.
Os ogãs já estão a postos, o corpo mediúnico adentra ao terreiro, lá fora numa lata o carvão fumegante aguarda a defumação que em seguida virá. A assistência já lota o humilde salão onde outrora fora uma garagem.
Ele observa a todos: ali na primeira fila uma senhora de meia idade ansiosa espera o início dos trabalhos. Observando-a descobre que está ali, pois acaba de saber que seu marido a está traindo com sua "melhor" amiga. Não muito distante dela, um jovem angustiado pensa em suicídio se não conseguir amarrar o grande amor de sua vida. Na última fila aquele homem de aparência insuspeita quer um trabalho para "apagar" seu concorrente nos negócios. A tudo e a todos, ele observa atento.
Percebe que muitos estão ali acompanhados de estranhos seres, que lhes sugam toda energia. Uma moça muito bonita se senta e chora, pois acabara de ser despedida, justamente agora que estava planejando seu tão esperado casamento.
Daqui a pouco quando os passes começarem ele terá que explicar para cada um deles que devem usar esta energia que envolve o centro para se beneficiarem sem que seja preciso desejar o mal a ninguém. Pedirá à senhora traída que perdoe e decida se deve continuar vivendo ao lado de alguém que já não lhe ama. Ao tolo comerciante explicará que talvez devesse aperfeiçoar suas técnicas de venda, ampliar seus negócios, ser mais cordial com seus fregueses e assim superar a concorrência. Ao desiludido, irá argumentar que se matar não levará a nada, que somente o afastará de seu grande amor e impedirá que outros amores surjam. À jovem desempregada, ele mostrará que ela é bonita e tem toda uma vida pela frente e com certeza amparada pela espiritualidade haverá de encontrar um novo e melhor emprego. Sabe que alguns o ouvirão e seguirão seus conselhos, porém muitos vão se afastar, achando que a tenda "não presta" pois não faz "trabalhos pesados". Os estranhos seres serão escorraçados por ele e seus fiéis amigos. Muitos irão acompanhar os tolos que se julgam acima de Lei Maior. Alguns serão levados a força para centros espirituais de reabilitação. Enfim começam os trabalhos, os atabaques tocam, as luzes são apagadas e tudo corre conforme ele previra.
Ao final do trabalho, passa pôr seu assentamento e sai gargalhando como todo bom Exu de Lei, pois sabe que cumpriu sua missão e mais dia menos dia todos irão se curvar diante das verdades que acaba de dizer. Laroyê Exú!
Autor do texto: Cássio Ribeiro

26 julho, 2012

Oração à Obaluayê

Oh, Mestre da Vida,
Proteja seus filhos para que suas vidas sejam marcadas pela saúde.
Vós é o limitador das enfermidades.
Vós é o médico dos corpos terrenos e almas eternas.
Suplicamos sua misericórdia aos males que nos afetam!
Que suas chagas abriguem nossas dores e sofrimentos.
Concede-nos corpos sadios e almas serenas.
Mestre da Cura, amenize nossos sofrimentos que escolhemos resgatar nessa encarnação!
Atotô meu Pai!

 

25 julho, 2012

Missão da Umbanda no Mundo

 A verdadeira missão dos Guias de Umbanda é a caridade integrada, sem se limitar a este ou aquele plano.
 
Seu principal objetivo é aliviar o sofrimento do homem onde quer que ele esteja, respeitando, sempre, à Lei de Causa e Efeito. Os Espíritos que militam em suas falanges entendem que a caridade consiste em livrar o homem dos sofrimentos de ordem espiritual, moral e material.
 
Os Guias de Umbanda têm a preocupação constante com o equilíbrio do homem no mundo, pois a Umbanda vive dentro do mundo. Compartilha do sofrimento cotidiano dos Espíritos ainda presos às suas imperfeições.
 
A Umbanda conhece as feridas dos filhos e busca aplicar-lhes o bálsamo curador do corpo e da alma. A doce bondade de suas entidades, tão próximas de seus filhos, nos dá a certeza de que não estamos desamparados. A simplicidade de seus Caboclos e a humilde linguagem dos seus Velhos Africanos ocultam a grandiosidade de Espíritos milenares, abnegados trabalhadores do bem, Anjos de Aruanda que nos amparam e nos ensinam o verdadeiro sentido do amor universal tão pregado pelo Mestre Jesus.
 
"O Cristo modelou a Umbanda por amor aos seus filhos rústicos e desgarrados; mas os umbandistas devem modelar-se no Cristo, por amor de sua própria felicidade" (Ramatis).
 
 
 
Texto enviado por Maria Luzia Leitão do Nascimento - Dirigente do Cantinho de Pai Firmino.

24 julho, 2012

Educação

Educa o terreno e terás o pão farto.
Educa a árvore e receberás a bênção da fartura.
Educa o minério e obterás a utilidade de alto preço.
Educa a argila e plasmarás o vaso nobre.
*
Educa a inteligência e atingirás a sabedoria.
Educa as mãos e acentuarás a competência.
Educa a palavra e colherás simpatia e cooperação.
Educa o pensamento e conquistarás a ti mesmo.
*
Sem o alfabeto anoitece o espírito.
Sem o livro falece a cultura.
Sem o mérito da lição a vida seria animalidade.
Sem a experiência e a abnegação dos que ensinam, o homem não romperia as faixas da infância.
*
Em toda parte, vemos a ação da Providência Divina, no aprimoramento da Alma Humana.
Aqui, é o Amor que edifica,
Além, é o Tamanho que aperfeiçoa,
Mais adiante é a Dor que regenera.
*
Meus amigos, a Terra é nossa escola milenária e sublime.
Jesus é o Nosso Divino Mestre.
O Espiritismo, sobretudo, é obra de educação.
Façamos da educação com o Cristo o culto de nossa vida, para que nossa vida possa educar-se e educar com o Senhor, hoje e sempre.

Emmanuel

Psicografia em Reunião Pública.
Data - 16/11/1954.
Local - Ginásio "O Precursor", na cidade de Belo Horizonte, Minas Gerais.
(De "Taça de Luz", de Francisco Cândido Xavier - Espíritos Diversos)

23 julho, 2012

O filósofo e o Preto Velho

Certo dia, um filósofo adentra a uma tenda de Umbanda e senta-se no banquinho de um preto velho. Sua intenção era questionar, investigar, enfim, experimentar.
Ao se sentar, o prevo velho já sabia o que ele queria, mas mesmo assim saudou-o gentilmente  e perguntou em que poderia ajudar. O filósofo respondeu:

- Meu preto velho, na era da biotecnologia vemos os cientistas avançarem cada vez mais nas pesquisas referentes à manipulação do material genético humano. Além disso, estamos na era do multiculturalismo, de forma tal que a diversidade, inclusive no sentido intelectual, se faz cada vez mais presente. Pergunto eu: - o que pode um preto velho dizer sobre assuntos de tamanha complexidade?

Preto Velho, com toda sua calma, respondeu gentilmente ao filósofo:

- Misin fio, vós suncê (Sic) tem palavra bonita na boca, por causa de que tu és homem letrado (Sic). Nego véio cá, num estudou nem escrevinhou essas coisa. Mas daqui do meu cantinho, aonde os ventos de Aruanda tocam em meus ouvidos, recebo as notícias que vem da Terra. Vejo também com meus próprios olhos e presencio as lágrimas e sorrisos que brotam como flores e espinhos no âmago de meus filhos. Vou dizer à vôs suncê uma coisa. Esse bicho chamado "biotecnologia", eu sei muito bem como funciona. Misin fio, [bio] vem do grego "bios" = vida. "Téchne" e "Logos" também vem do grego, fio. Logo, biotecnologia é o conhecimento sobre as práticas (manipulação) referentes à vida. Assim sendo, nego véio é a favor de tudo que respeita a vida e que é usado para o bem. O bem, não só de si mesmo, mas da humanidade. Uma faca pode ser uma ferramenta de cozinha e ajudar a preparar um alimento. No entanto, a mesma faca pode ser uma arma e machucar alguém. Não é a ferramenta, mas sim o que se faz com ela que torna perigosa a humanidade.

Pasmo, o intelectual não sabia o que dizer, tamanha sua surpresa sobre tão sábias palavras. E não só isto, o conhecimento até sobre a origem das expressões que vem do grego, aquela humilde entidade possuía.

Por alguns segundos sentiu um misto de inveja e indignação, uma vez que pensou ser mais conhecedor sobre as coisas da vida que o Preto Velho. Daí então indagou:

- Você acha que suas opiniões podem superar a luz da ciência?

Este, respondeu:

- Fio, o que nego véio fala, nego véio comprova, pois este nego vivenciou. Caminhou na terra que vós suncê pisa hoje. Sorriu, chorou, se emocionou, amou. Conviveu com homens de bem e também com homens de mal. Fez suas escolhas e por isso é hoje um espírito guia. E só pude aqui chegar porque acertei na maioria das escolhas que fiz. Naquelas em que não acertei, tive que vivenciar novamente, até aprender. Assim como vós, na Terra. Quanto aos estudos (risos), esse nego véio aqui não frequentou escola na última encarnação. Mas, das muitas encarnações que tive, eu estudei, me formei e, em algumas delas me doutorei. A medicina chinesa, a filosofia grega, a sabedoria hindu; tudo isso fez parte da minha evolução. Da matemática egípcia até os estudos astronômicos de Galileu pude aprender. E depois de aprender tudo isso, sabe qual o maior ensinamento que obtive misin fio? A ter HUMILDADE. Por isto, doutor, vós me vês na aparência de um velho escravo brasileiro, semeador das raízes deste lindo país chamado Brasil, terra da diversidade, da multiculturalidade.

Que cada um formule a sua moral da história.

Porém, questione seus conhecimentos e veja se estão alinhados com os propósitos de simplicidade. Pois sem ela, não se faz jus a benção do saber.



Texto retirado de: Jornal Nacional de Umbanda

16 julho, 2012

Religião e Vida Psíquica

A palavra religião vem do latim e significa "religare", podendo ser interpretada como religação do homem a Deus. A religião tem como objetivo responder as perguntas que a ciência não responde, como de onde viemos, o que estamos fazendo aqui e para onde vamos depois da morte, isto é, ocupa-se com o ser humano espiritual. Psicologicamente, Jung admite a existência de um Deus interno, imaterial. No aspecto filosófico, Osho, filósofo indiano e adepto de meditação zen, defende que há espiritualidade apenas cultivando os valores morais, sem necessariamente precisar existir a religião. Seria a consciência livre: se crer no que se deseja crer e não no que as crenças determinam.

O pai da psicanálise, Sigmund Freud, como ateu convicto, sempre colocou a religião no aspecto negativo, como sendo a "neurose obsessiva da humanidade". Colocou a religião como uma necessidade das civilizações em controlar os seus indivíduos em seus impulsos e instintos, pois as leis divinas sempre foram percebidas como mais sólidas e mais poderosas do que as leis humanas. Deste modo, passa-se a obedecer aos preceitos da sociedade devido o temor do castigo de Deus. O Deus criado pela humanidade viria para minimizar o sofrimento do que se foge ao controle humano, como as catástrofes naturais e os fenômenos sobrenaturais, por exemplo. Considerando também que a figura de Deus representa a figura paterna, com teor psicológico ambivalente, tal como no complexo de Édipo. Enfim, para a psicanálise a religião com os seus fenômenos proporciona a neurose.


Sendo a religião um Deus interno, imaterial, tal qual afirmou Jung e o conceito de espiritualidade de Osho, fácil conclui-se que o indivíduo pode e deve dirigir sua fé pela religião que achar coerente com os seus valores e princípios, reduzindo a um grupo específico e não generalizando os conceitos de Freud. Mas por que a dificuldade de escolher uma religião e depois de escolhida, por que a dificuldade de se manter nela? Por que a insatisfação sempre incomoda muitas pessoas, fazendo-as até rejeitar a possibilidade do ser espiritual existir, bem como duvidar da existência de Deus? Também existem aquelas pessoas que insatisfeitas com a religião que escolheram, se sentem melhores quando agridem e atacam a religião dos outros.


Para se encontrar a religião certa, entenda-se por certa aquela capaz de trazer a paz e a harmonia interior, é preciso que antes de tudo a pessoa se auto-analise e tenha o desejo sincero de interagir com a comunidade religiosa, que vivencie o ser em detrimento do ter, que questione "o que espero da religião e o que posso oferecer", consciente do seu lugar no mundo e para o mundo. Porque a religião não pode servir como "muletas" para as pessoas emocionalmente imaturas, correndo-se o risco da insatisfação permanente e do entendimento distorcido do seu real valor. Talvez tenha sido este o motivo que levou Freud a afirmar que a religião é uma neurose. Neurose nada mais é do que o "conflito" do ser consciente com todas as suas instâncias psíquicas e com o mundo exterior, assim, se quer encontrar a sua religião ou aceitar a que pratica, encontre-se primeiro consigo mesmo e trabalhe as suas insatisfações perante a vida.




Texto enviado por Ednay Melo