26 dezembro, 2013

O espírito da coisa

Você sempre pega o espírito da coisa? Geralmente o espírito da coisa é algo que fica subentendido, só as almas atentas conseguem captá-lo. A verdade é que, em um mundo cada vez mais pragmático, é difícil pegar o espírito da coisa, seja que coisa for esta.

O que dizer então do espírito do Natal? Antes ele entrava no ar assim que dezembro iniciava. O espírito deste mês, para quem foi criança em outros tempos, era de pura magia. O Natal, que demorava tanto para chegar, estava batendo à porta. "Quantos dias faltam, mãe?" "Agora falta pouco, querida." "Quanto?" "Uns 20 dias." "Tudo isso?!!"

Mas a gente sabia que era pouco se comparado à longa espera de um ano inteiro. Em maio, junho, julho, o Natal ainda estava a perder de vista. Natal era o arremate do calendário, era a compensação por tanto estudo e provas na escola, era o prêmio por termos nos comportado bem, era a hora de colocar uma roupa bonita e ter algum desejo atendido, era hora de comer umas delícias diferentes, de rezar, de acreditar em todos os sonhos. O céu ficava mais azul, as estrelas se multiplicavam e nunca, nunca chovia em dezembro. Então finalmente chegava o dia 24. A empregada era liberada logo depois do almoço, o pai voltava mais cedo para casa e nenhum moleque reclamava de ir pro chuveiro, até gostava. Já de banho tomado, era hora de esperá-lo. Ele. O verdadeiro Deus de toda criança, Papai Noel.

Hoje mal entra dezembro - e com ele, trovoadas - e os shoppings lotam, o trânsito entope, os filhos pedem coisas caríssimas e ganham antes mesmo da noite feliz. Comprar, comprar, comprar. Você, meio sem grana, faz o que pode. Os outros, meio sem nada, você faz que não vê. Mas eles estão entre nós: crianças pedindo um lápis de presente, pedindo colchão de presente, sonhando com o primeiro iogurte de suas vidas. E a gente voando de um lado para o outro, sem tempo para eles.

Isso tudo foi até ontem, quando dezembro acabou. Ao menos este dezembro insensato, ansioso, consumista, ateu, que dura 24 dias febris, onde todos correm, todos estão atrasados, todos têm compromissos inadiáveis. Uma amiga me escreveu no auge do estresse: "Pensar que o próximo será só daqui a um ano é a melhor parte da história!"

Antes de começar a contagem regressiva para o próximo, temos hoje. Temos este hiato, o dia 25. Um feriado, um domingo, uma trégua. As lojas estão todas, todinhas, fechadas. Sobrou alguma coisa da ceia para beliscar na geladeira.

Você vai sentir sede de suco natural, de água gelada. Vai colocar música para tocar, nenhum motivo pra tirar o carro da garagem, nenhuma razão para procurar vaga para estacionar.

Hoje você vai andar a pé, no máximo de bicicleta. Vai falar mais pausadamente. Não vai ligar a TV, prometa. Nem sei por que abriu o jornal. Hoje é dia de caminhar devagar, de chinelo ou pés descalços. Dia de olhar bem fundo nos olhos do porteiro que está trabalhando, do motorista de ônibus que está trabalhando, e desejar a eles um Feliz Natal pra valer. Com sentimento. Um sentimento que não seja medo nem angústia.

Paz.

É hoje o dia que nos restou pra isso. Um dia para sairmos de casa apenas para ir até alguém que nada possui e ofertar um pedaço de bolo, uma barra de chocolate, um travesseiro, um sabonete, uma bola, qualquer coisa que signifique uma verdadeira extravagância diante de tanta miséria. Terminou a histeria coletiva, terminou a festa, terminou a semana. É hoje, antes que tudo reinicie, que você poderá encontrar o verdadeiro espírito da coisa. Não deixe que ele escape.


Redação de Martha Medeiros

25 dezembro, 2013

Linda Mensagem de Natal

Um dia Gabriel acordou, muito contente, era a véspera de Natal, pois para ele era uma data muito importante!

Era o dia do Aniversário do Menino Jesus, e também o dia que Papai Noel vinha visitá-lo todos os anos.

Com seus seis aninhos, esperava ansiosamente o cair da noite para voltar a dormir, e no outro dia encontrar em seu pé de meia, o seu presente de Natal, pois nem tinha uma árvore de Natal.

Dormiu muito tarde, para ver se pegava aquele velhinho no "flagra", mas como o sono era maior que sua vontade, dormiu profundamente.

Mas, na manhã de Natal, percebeu que seu pé de meia não estava lá, e que não havia presente nenhum em toda sua casa.

Seu pai desempregado, com os olhos cheios de água, observava atentamente o seu filho, e esperava para tomar coragem para falar que o seu sonho não existia, e com muita dor no coração, o chama:

- Gabriel, meu filho, vem cá!

- Papai?!

- O que foi filho?!

- O Papai Noel se esqueceu de mim...

Falando isso, Gabriel abraça o pai, e os dois se põem a chorar, quando Gabriel fala:

- Ele também se esqueceu de você pai?

- Não meu filho.

O melhor presente que eu poderia ter ganhado na vida, está em meus braços, e fique tranquilo pois eu sei que o Papai Noel não se esqueceu de você.

- Mas todas as outras crianças vizinhas estão brincando com seus presentes... ele pulou a nossa casa...

- Pulou não... o seu presente está te abraçando agora, e vai te levar para um dos melhores passeios de sua vida!

E assim foram para um parque, e Gabriel brincou com seu pai durante o resto do dia, voltando somente no começo da noite.

Chegando em casa muito sonolento, Gabriel foi para seu quarto, e "escreveu" para o Papai Noel:

"Querido Papai Noel, eu sei que é cedo demais para pedir alguma coisa, mas quero agradecer o presente que o senhor me deu. Desejo que todos os Natais que eu passe, faça com que meu pai se esqueça de seus problemas, e que ele possa se distrair comigo, passando uma tarde maravilhosa como a de hoje. Obrigado pela minha vida, pois descobri que não são com brinquedos que somos felizes, e sim, com o verdadeiro sentimento que está dentro de nós, que o senhor desperta nos Natais. De quem te agradece por tudo, Gabriel."

E foi dormir com um lindo sorriso nos lábios.

Entrando no quarto para dar boa noite ao seu filho, o pai de Gabriel viu a cartinha, e a partir desse dia, não deixou que seus problemas afetassem a felicidade dele, e começou a fazer que todo dia fosse um Natal para ambos.

Se um simples garotinho de seis anos, conseguiu perceber que os melhores presentes que se pode receber não são materiais, porque nós não fazemos o mesmo?

Que todos vocês que estão lendo esta mensagem, faça com que cada dia seja um Natal, valorizando a amizade, carinho e todos os sentimentos bons que existem dentro de cada um, e depende somente de nós mesmos para botar pra fora...

Feliz Natal!!!




21 dezembro, 2013

Por que as pessoas ficam tristes no Natal?

Já chegava o final do ano, e as pessoas já traziam nos olhos aquele ar de imenso cansaço de quem vê mais um tempo se fechando na própria vida.

A menina tinha aquela estranha argúcia das crianças, para quem alguns detalhes da vida nunca passam despercebidos.

- Vó?

- Oi!

- Por que as pessoas ficam tristes no Natal?

A vovó estava tomando seu café, e quase engasgou com a pergunta. Essas conversas a gente sabe como começam, mas como vão terminar...

- Por que você está perguntando isso, meu bem?

- Porque eu vejo, vovó. No Natal, parece que só tem gente feliz dentro da televisão.

Mal pode conter o riso, da inteligência vivaz daquela menina.

- Sabe, querida, acho que as pessoas confundem um pouco as datas.

- Como assim?

- Algumas pessoas confundem o Natal com o Dia de Finados. Você sabe o que quer dizer o Dia dos Mortos?

Olhou para ela com aquela cara de mais ou menos.

- No dia de Finados, lembramos das pessoas que não estão mais aqui nessa dimensão com a gente. Visitamos, levamos flores e conversamos com essas pessoas que moram em nossos corações, mesmo tendo partido de nosso convívio.

- Você vai visitar o vovô no dia dos Mortos, não é, vovó?

- Sim, meu bem, eu vou fazer uma visita para ele em meu coração. Converso, conto as novidades e fico com saudades das conversas que eu tinha no alpendre com seu avô.

- Por que você não vai ao cemitério, como todo mundo?

- Porque eu combinei com seu avô que iria encontrá-lo aqui na varanda, no alpendre, no pomar, nos lugares em que o nosso amor ainda está lá, vibrando, como uma música...

A menina era curiosa mas não inconveniente. Percebeu que a vovó estava muito emocionada e não queria vê-la chorar.

A vovó, como sempre, adivinhou seus pensamentos.

- Pode continuar perguntando as coisas, meu bem... A vovó se emociona um pouco mas aguenta o tranco...

- Vó?

- Oi!?

- O que tem a ver Finados com o Natal?

- Algumas pessoas ficam tristes no Natal porque se lembram dos entes queridos que não estão mais ali. Olham para as mesas, as comidas, a árvore de Natal e só conseguem lembrar de festas antigas, onde a casa estava cheia, os filhos eram pequenos e a vida era mais simples. Vai passando o tempo e as pessoas ficam com essa coisa, essa doença de fim de ano que se chama Antigamente-que-o-Natal-era-bom, e ficam suspirando na mesa com saudade de outros tempos, outras épocas. Isso que é um Natal-Finados, meu bem. Um Natal em que as pessoas ficam todas tão preocupadas com as perdas que não notam o encanto das crianças com o Papai Noel, nem a graça de mais uma vez reunir os vivos e aproveitar quem está ali em vez de pensar em quem partiu.

- E por que as pessoas tem saudade no Natal e não no dia de Finados?

- Acho que porque as pessoas acham feio ter um dia para a tristeza, meu amor. Acham que devemos ter datas só para alegrias. Mas até o Carnaval tem a Quarta-feira de Cinzas para a gente ficar triste...

A menina coçou a cabeça, o que era sempre um sinal de que iria desfechar uma daquelas perguntas sem resposta que a vovó temia.

- Mas, vó?

- Fala...

- Por que as pessoas tem que ficar felizes no Natal?

Pronto. Inverteu a pergunta, pensou a vovó.

- Você falou que as pessoas só ficam felizes na televisão.

- Isso.

- Bem, minha querida, tem uma alegria de plástico na televisão. Uma alegria de Loja de Departamentos que não tem nada a ver com o Natal. Isso também deixa as pessoas muito tristes.

- Por que?

- Porque elas olham aquelas pessoas rindo, as famílias numerosas e felizes, as mulheres magras e maravilhosas, os homens lindos e seguros de si, envolta de Papais Noel gordos e sorridentes e pensam: os outros tem um Natal muito melhor do que o meu...

- E para que serve isso, vovó?

- Para vender coisas, querida. Para as pessoas confundirem o Natal com os presentes, o que também é uma bobagem.

Dessa vez foi a vovó que coçou a cabeça.

- Pituca?

- Oi!

- Sabe, tem gente que nem lembra que o Natal comemora o nascimento de Jesus. Olham para o Presépio e acham que é um enfeite folclórico, com uma criança cercada de vacas e ovelhas. As pessoas perderam o sentido de Natal, meu bem, por isso não sabem mais se ficam alegres ou tristes nessa época. E você sabe qual é uma das maiores graças do Natal, meu bem?

- Qual?

- Esperar por ele. É uma delícia esperar pela festa.

- Mas...

- O que?

- Eu vou ter que esperar muito?

- Não. O Natal já está bem pertinho...

- Mas...

A vovó olhou com cara de que não-tem-mas-nem-meio-mas. A menina entendeu. Mas não deixou a velha senhora sem uma última pergunta.

- Vó?

- Oi!

- Quando você morrer, meu Natal vai ficar triste?

A vovó aconchegou a menina, que já tinha algumas lágrimas querendo sair.

- Você vai ficar feliz, pois o amor que a vovó sente por você vai estar vibrando, como uma música, envolta da árvore. É lá que eu vou te encontrar, combinado?

- Combinado.

A menina teve uma estranha sensação, como se uma rena tivesse passado pela janela.

Devia ser um sonho de Natal.


Texto enviado por Vilmar Gonzaga