22 setembro, 2017

A origem da Umbanda

A história nos mostra que os negros foram tirados a força de sua terra natal, na África, e trazidos para o Brasil com rancor e ódio em seus corações. Feridos em sua dignidade e distantes da pátria que amavam, muitas das vezes, enganados, feitos prisioneiros e escravos, o que resultou em muitos anos de lutas e dores. Eles tentavam manter seus costumes na cultura e na religião, que se baseava na evocação das forças da natureza, deificadas e personificadas em divindades, que eram uma espécie de deuses, a que cultuavam com todo fervor de suas vidas.

Com o tempo aprenderam a se vingar de seus senhores e déspotas através de pactos com entidades trevosas através da magia negra, que não era outra coisa se não as energias magnéticas da natureza empregadas de forma equivocada. Dessa maneira o culto inicial as divindades da natureza foi se transformando em métodos de vingança e em pactos com essas entidades que assumiam a forma dessas mesmas divindades.

Um mistério envolvia de tal forma essas manifestações religiosas, que se tornava difícil para um leigo saber sua origem e seu significado. Seus rituais eram tão misteriosos, que o povo com seu misticismo natural era constantemente explorado por aqueles que nenhum escrúpulos tinham em relação à fé alheia. Esses cultos acabaram se tornando, na verdade, num disfarce para uma série de atividades menos dignas no campo da magia, o que com o tempo acabou gerando uma atmosfera psíquica indesejável no campo áureo do Brasil.

A psicosfera no ambiente espiritual da nação estava sendo afetada de tal forma pelas energias negativas, que entidades ligadas aos lugares de sofrimento encarnavam e desencarnavam conservando assim o ódio em seus corações. Dessa forma a magia negra foi se espalhando em forma de culto pelas terras brasileiras, de norte a sul do país onde as oferendas eram entregues pelos adeptos desses cultos, que se multiplicavam a cada dia, aumentando ainda mais a crosta mental negativa que vinha se formando sobre os céus da nação.

No Mundo Espiritual reuniram-se então, entidades de alta hierarquia com o objetivo de encontrar uma solução para desfazer essa egrégora negativa que vinha se formando na psicosfera do país. A magia negra teria de ser combatida e seus efeitos destrutivos haveriam de serem desmanchados, de maneira a transformar os próprios  cultos degradantes em lugares que irradiassem o Amor e a Caridade, essa era a única forma de modificar o panorama sombrio que vinha sendo criado.

Havia então a necessidade de que os próprios espíritos, mais evoluídos e esclarecidos, se manifestassem para realizar tal cometimento, e assim foram se apresentando, uma a uma, aquelas entidades iluminadas modificando suas formas perispirituais, assumindo assim, a conformação das próprias divindades e de entidades como Preto-Velhos e Caboclos, levando a mensagem da Caridade, com o objetivo inicial de desfazer a carga negativa que se abatia sobre os corações dos homens.

Essas entidades seriam o elo de ligação com o Alto, penetraria aos poucos nos redutos de magia negra,  os quais ainda se mantinham enganados quanto as Leis do Amor e da Caridade, e iria então transformando, com as palavras e os ensinamentos das entidades, os sentimentos das pessoas. Para isso foi necessário que elevados companheiros da vida maior renunciassem certos métodos de trabalho, considerados por eles mais elevados, para se dedicarem às atividades que aqueles cultos se propunham. A essas entidades, se juntaram a antigos espíritos de escravos e índios, que em sua simplicidade e boa vontade, se propuseram a trabalhar para mostrar aos homens suas lições sagradas, auxiliando assim na cura de doenças e na transmissão das mensagens de Amor e Caridade.

Nas sessões espíritas, da época, essas entidades não foram aceitas, pois identificadas sob essas conformidades, pretos-velhos e caboclos, eram considerados espíritos atrasados e suas mensagens não mereciam nem mesmo uma análise. Mas com o campo áureo do país mais preparado, mesmo não conseguindo muitas alterações nos cultos, vemos uma seção espírita surgir então a UMBANDA, anunciada em 15 de novembro de 1908, em Neves, subúrbio de Niterói, no Rio de Janeiro, pelo espírito que se identificou como "Caboclo das Sete Encruzilhadas", através do médium Zélio Fernandino de Moraes, então com dezessete anos de idade, usando pela primeira vez o vocábulo "Umbanda" como designação de culto e religião, definindo assim o novo movimento religioso como: "uma manifestação do espírito para Caridade!"

Tudo começou quando Zélio Fernandino de Moraes, nascido em 10 de abril de 1891, no bairro de Neves, município de Niterói, no Rio de Janeiro, aos seus dezessete anos estava se preparando para servir as Forças Armadas, através da Marinha, se acometeu um fato curioso: começou a falar em tom manso e com um sotaque diferente da sua região, parecendo um senhor com bastante idade. De princípio, a família achou que houvesse algum distúrbio mental e o encaminhou a seu tio, Dr. Epaminondas de Moraes, médico psiquiatra e diretor do Hospício da Vargem Grande. Após alguns dias de observação e não encontrando os seus sintomas em nenhuma literatura médica sugeriu à família que o encaminhassem a um padre para que fosse feito um ritual de exorcismo, pois desconfiava que seu sobrinho estivesse possuído pelo demônio. Procuraram então um padre, também da família, que após fazer o ritual de exorcismo não conseguiu nenhum resultado.

Tempos depois Zélio foi acometido por uma estranha paralisia, para o qual os médicos não conseguiram encontrar  a cura. Passado algum tempo, num ato surpreendente Zélio ergueu-se do seu leito e declarou: "Amanhã estarei curado". No dia seguinte começou a andar como se nada tivesse acontecido. Nenhum médico soube explicar como se deu a sua recuperação. Sua mãe, D. Leonor de Moraes, levou Zélio a uma curandeira chamada D. Cândida, figura conhecida na região onde morava e que incorporava o espírito de um preto velho chamado Tio Antônio. Tio Antônio recebeu o rapaz e fazendo as suas rezas lhe disse que possuía o fenômeno da mediunidade e deveria trabalhar com a caridade.

O Pai de Zélio de Moraes, Sr. Joaquim Fernandino Costa, apesar de não frequentar nenhum centro espírita, já era um adepto do espiritismo, praticante do hábito da leitura de literatura espírita e no dia 15 de novembro de 1908, por sugestão de um amigo, levou Zélio à Federação Espírita de Niterói. Chegando na Federação e convidados por José de Souza, dirigente daquela instituição, se sentaram à mesa, onde logo em seguida, contrariando as normas do culto realizado, Zélio se levantou e disse que ali faltava uma flor, foi até o jardim apanhou uma rosa branca e colocou-a no centro da mesa onde se realizava o trabalho. Iniciando uma estranha confusão no local, pelo fato ocorrido, ele incorporou um espírito e simultaneamente diversos médiuns presentes apresentaram incorporações de caboclos e pretos velhos, sendo advertidas pelo dirigente do trabalho. Então a entidade incorporada no rapaz perguntou:

"- Por que repelem a presença dos citados espíritos, se nem sequer se dignaram a ouvir suas mensagens. Seria por causa de suas origens sociais e da cor?"

Após um vidente ver a luz que o espírito irradiava perguntou:

"- Por que o irmão fala nestes termos, pretendendo que a direção aceite a manifestação de espíritos que, pelo grau de cultura que tiveram quando encarnados, são claramente atrasados? Por que fala deste modo, se estou vendo que me dirijo neste momento a um jesuíta e sua veste branca reflete uma aura de luz? E qual o seu nome meu irmão?"

Ele responde:

"- Se julgam atrasados os espíritos de pretos e índios, devo lhes dizer que amanhã estarei na casa deste aparelho, para dar início a um culto em que estes pretos e índios poderão dar sua mensagem e, assim, cumprir a missão que o plano espiritual lhes confiou. Será uma religião que falará aos humildes, simbolizando a igualdade que deve existir entre todos os irmãos, encarnados e desencarnados. E se querem saber meu nome que seja este: Caboclo das Sete Encruzilhadas, porque não haverá caminhos fechados para mim."

O vidente ainda pergunta: 

"- Julga o irmão que alguém irá assistir a seu culto?"

Novamente ele responde: 

"- Colocarei uma condessa em cada colina que atuará como porta-voz, anunciando o culto que amanhã iniciarei."

No dia seguinte, 16 de novembro de 1908, na rua Floriano Peixoto, 30, em Neves, Niterói, aproximando-se das 20h, estavam presentes os membros da Federação Espírita, parentes, amigos e vizinhos e do lado de fora uma multidão de desconhecidos. Pontualmente às 20h o Caboclo das Sete Encuzilhadas incorporou e iniciou o culto usando as seguintes palavras:

"- Aqui se inicia um novo culto em que os espíritos de pretos velhos africanos, que haviam sido escravos, que desencarnaram e não encontram campo de ação nos remanescentes das seitas negras, já deturpadas e dirigidas quase que exclusivamente para os trabalhos de feitiçaria e os índios nativos da nossa terra, poderão trabalhar em benefícios dos seus irmãos encarnados, qualquer que seja a cor, raça, credo ou posição deste culto, que terá base no Evangelho de Jesus como mestre supremo Cristo."

Nessa reunião, o CABOCLO DAS SETE ENCRUZILHADAS estabeleceu as normas do culto, sendo que:

- Sua prática seria denominada "sessão" e se realizaria à noite, das 20 às 22h, para atendimento público, totalmente gratuito, passes e recuperação de obsedados.

- O uniforme a ser usado pelos médiuns seria todo branco e de tecido simples.

- Não se permitiria retribuição financeira pelo atendimento ou pelos trabalhos realizados.

- Os cânticos não seriam acompanhados de atabaques nem de palmas ritmadas.

A esse novo culto, que se alicerçava nessa noite, a entidade deu o nome de UMBANDA e declarou fundado o primeiro templo para a sua prática, com a denominação de Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade, justificando o nome pelas seguintes palavras: "assim como Maria acolhe em seus braços o Filho; a Tenda acolheria os  que a ela recorressem, nas horas de aflição." Através de Zélio manifestou-se nessa mesma noite, um Preto Velho, Pai Antônio, para completar as curas de enfermos iniciados pelo Caboclo.

A partir dessa data, a casa da família de Zélio tornou-se a meta de enfermos, crentes, descrentes e curiosos. Os enfermos eram curados; os descrentes assistiam a provas irrefutáveis; os curiosos constatavam a presença de uma força superior; e os crentes aumentavam, dia a dia. Cinco anos mais tarde, manifestou-se o Orixá Malet exclusivamente para a cura de obsedados e o combate aos trabalhos de magia negra.

Vejamos então cronologicamente os principais acontecimentos da UMBANDA a partir de sua anunciação:

1 - 15 de novembro de 1908 - advento da UMBANDA e fundação do primeiro terreiro de Umbanda, por Zélio de Moraes, em Neves, subúrbio de Niterói;

2 - Novembro de 1918 - O Caboclo das Sete Encruzilhadas dá início à fundação de sete Tendas de Umbanda no Rio de Janeiro;

3 - 1920 - A Umbanda espalha-se pelos Estados de São Paulo, Pará e Minas Gerais. Em 1926 chega ao Rio Grande do Sul e em 1932 em Porto Alegre;

4 - 1924 - O advento do Caboclo Mirim - Manifestou-se no Rio de Janeiro, em um jovem médium, Benjamim Figueiredo, uma entidade, denominada Caboclo Mirim, que vinha com a finalidade de criar um novo núcleo de crescimento para a Umbanda;

5 - 1939 - Os templos fundados pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas reuniram-se, criando a Federação Espírita de Umbanda do Brasil, posteriormente denominada União Espiritualista de Umbanda do Brasil, incorporando dezenas de outros terreiros fundados por inspiração de "entidades" de Umbanda que trabalhavam ativamente no astral sob a orientação do fundador da Umbanda.

6 - Outubro de 1941 - Reúne-se o Primeiro Congresso de Espiritismo de Umbanda. Outros congressos havidos posteriormente retiraram acertadamente o nome espiritismo que, de fato, pertence aos espíritas brasileiros, os quais seguem a respeitável doutrina codificada por Alan Kardec. Em suma, o espírita pratica o espiritismo e o umbandista  pratica a umbanda ou umbandismo. Neste Congresso foi também apresentada tese pela Tenda São Jerônimo, propondo a descriminalização da prática dos rituais de Umbanda. O autor, Dr. Jayme Madruga, a par de um minucioso estudo de todas as constituições já colocadas em vigência no Brasil, busca também em projetos como o da Constituição Farroupilha e nos códigos penais até então vigentes e no que haveria de vigorar após 01 de janeiro de 1942. Os argumentos mostravam que o caminho da Umbanda começava a ser aberto e que caberia aos umbandistas buscarem acelerar o processo com declarações e resoluções, partindo daquele congresso, em prol da descriminalização da prática da Umbanda;

7 - 1944 - Vários umbandistas ilustres, entre eles vários militares, políticos, intelectuais e jornalistas, apresentam ao então presidente Getúlio Vargas um documento intitulado "O Culto da Umbanda em Face da Lei" e consegue daquela autoridade a descriminalização da Umbanda. Este fato, apesar de ter sido extremamente positivo, trouxe como subproduto uma perda de identidade muito grande por parte de nossa religião, uma vez que todos terreiros, das mais variadas seitas, incluíram em seu nomes a palavra Umbanda como forma de fugir à repressão policial. Como nossa religião não tinha um rito claramente definido e nem a formação de sacerdotes, o que gera hierarquia, ela acabou ficando à mercê dessa deturpação; outro fato que fortaleceu essa descaracterização foi que, sendo um período de crescimento, não se buscava a qualidade dos terreiros que se filiavam à Federação, ou à União que lhe sucedeu;

8 - 12 de setembro de 1971 - Foi criado na cidade do Rio de Janeiro, o Conselho Nacional Deliberativo  de Umbanda - CONDU, que congrega as Federações de Umbanda existentes ao longo do país, atualmente, contando com mais de 46 Federações, de norte a sul do país, reunindo representantes  de mais de 40.000 terreiros de umbanda.

9 - 1972 - Em mensagem psicografada por Omolubá, enviada pelo poeta Ângelo de Lys, confirma-se a origem da Umbanda no Brasil, através do médium Zélio de Moraes.

10 - 1977 - o CONDU reconhece, publicamente, como verdadeira a origem da Umbanda no Brasil.

11 - 1978 - Surge o livro "Fundamentos de Umbanda, Revelação Religiosa", de Israel Cisneiros e Omolubá, que aborda a questão da origem da Umbanda, através de mensagens do astral, trazendo, por fim, após 70 anos de existência da Umbanda, as primeiras bases teológicas e norteadoras da doutrina umbandista, com fundamentos integrais da nova religião e sua verdadeira origem. Após este momento podemos definir como sendo o início desse novo período; assume-se a Umbanda como religião brasileira e começa o primeiro movimento consistente para dar a ela uma base teológica e a criação de uma hierarquia, baseada na formação sacertdotal, fundamental para a manutenção das bases ritualísticas e conceituais.

Decorridos setenta anos de existência da Umbanda no Brasil, compreendidos entre 1908/1978, passou este curto espaço de tempo, porém significativo, a ser conhecido entre os estudiosos da causa como Período de Propagação da genuína força do credo, nascida no século XX, em terras brasileiras. Embora a Umbanda ainda se apresente, muitas das vezes, um tanto desfigurada, com nuanças religiosas, reconhecemos que isso decorra desse período de propagação, onde no afã de conquistar almas se respeitaram os ambientes regionais, criando assim as adversidades que vemos hoje em dia. Mesmo assim ela nunca deixou, através de seus verdadeiros guias, de oferecer amparo prático, ajuda e orientação, apontando sempre a eterna chama da esperança em dias melhores, calcados, naturalmente, na ação correta a cada instante, na cordura, no companheirismo e na fraternidade.

Os mentores da Umbanda, sediados em Aruanda, cidade localizada no plano astral, já haviam determinado sabiamente que o procedimento normativo, religioso para os setenta anos posteriores, 1979/2049, como sendo o período de Afirmação Doutrinária. Obviamente, a doutrina de Umbanda ficará como ponto essencial para a estabilidade desse movimento, no estudo constante e no esforço sincero de cada devoto, no sentido de conduzi-la no plano físico a um merecido status de religião organizada, a serviço da comunidade religiosa nacional. Em 1980 o CONDU publica o livro "Noções elementares de Umbanda" contendo as deliberações do conselho quanto aos fundamentos da Umbanda e outros temas. Hoje o movimento religioso da Umbanda estende-se por todo o Brasil, professado com humildade as leis da Caridade e do amor ao próximo, sem proselitismo, sem explorações do povo, e sem mistérios mistificantes.  A Umbanda nada mais é que o retorno à simplicidade de cultuar Deus, onde o templo de Umbanda é o local destinado a esse culto, que tem como base a caridade, usando para isso todos os recursos das forças da natureza, personificadas nas divindades Nagôs, os Orixás, que são representados pelos nossos mentores espirituais, ou como nós os chamamos, nossos guias, espíritos evoluídos que representam essas divindades e suas várias formas de atuação no mundo espiritual e material em favor ao próximo.

Existem várias ramificações da Umbanda que guardam raízes muito fortes das bases iniciais e outras que absorveram características de outras religiões já existentes, mas que mantém a mesma essência nos objetivos de prestar a caridade, com humildade, respeito e fé. As mais conhecidas são:

- Umbanda Popular - que era praticada antes de Zélio e conhecida como macumbas ou candomblés de caboclos; onde podemos encontrar um forte sincretismo associando santos católicos aos Orixás africanos;

- Umbanda tradicional - oriunda de Zélio Fernandino de Moraes;

- Umbanda Branca e/ou de Mesa - com um cunho espírita muito expressivo. Nesse tipo de Umbanda, em grande parte, não encontramos elementos africanos, nem o trabalho de Exus e Pomba-giras, ou a utilização de elementos como atabaques, fumo, imagens e bebidas. Essa linha doutrinária se prende mais ao trabalho de guias como caboclos, preto-velhos e crianças. Também podemos encontrar a utilização de livros espíritas como fonte doutrinária;

- Umbanda Omolokô - trazida da África pelo Tatá Tancredo da Silva Pinto. Onde encontramos um misto entre o culto dos Orixás e o trabalho direcionado dos guias.

- Umbanda Traçada ou Umbandomblé - onde existe uma diferenciação entre umbanda e candomblé, mas o mesmo sacerdote ora vira para a Umbanda, ora vira para  o candomblé em sessões diferenciadas. Não é feito tudo ao mesmo tempo. As sessões são feitas em dias e horários diferentes;

- Umbanda Esotérica - é diferenciada entre alguns  segmentos oriundos de Oliveira Magno, Emanuel Zespo e o W.W. da Matta (Mestre Yapacany), em que intitulam a Umbanda como a "Aumbhandan: conjunto de leis divinas";

- Umbanda Iniciática - é derivada da Umbanda Esotérica e foi fundamentada pelo Mestre Rivas Neto (Mestre Yamunisiddha Arhapiagha), onde há a busca de uma convergência doutrinária, sete ritos, e o alcance do Ombhandhum, o Ponto de Convergência e Síntese. Existe uma grande influência Oriental, principalmente em termos de mantras indianos e utilização do sânscrito;

- Umbanda de Caboclos - influência da cultura indígena brasileira com seu foco principal nas entidades conhecidas como "Caboclos";

- Umbanda de Preto-Velhos - influência da cultura africana, onde podemos encontrar elementos sincréticos, o culto aos orixás, e onde o comando é feito pelos Preto-Velhos.

Outras formas existem, mas não têm uma denominação apropriada, diferenciam-se das outras por diversos aspectos peculiares.

A Umbanda por ser uma religião sincrética se utiliza de um vasto simbolismo em seus trabalhos, e ela tem nesse simbolismo um de seus maiores fundamentos, que se aplica na identificação das entidades e na sustentação das linhas de trabalhos espirituais, cada qual com seu nível vibratório. Esse simbolismo também identifica o campo vibratório a qual a entidade desenvolve seu trabalho, e sob qual Orixá, ou força da natureza, é regido.

Podemos observar esse simbolismo desde sua anunciação onde grande mentor espiritual, que teve a missão de rasgar o véu da ignorância e estabelecer os fundamentos da Umbanda como religião e culto, manifestou-se na forma perispiritual e se identificou como "Caboclo das Sete Encruzilhadas", nome este totalmente simbólico, pois "Caboclo" era a palavra destinada às pessoas mestiças, e "Sete Encruzilhadas", que são as sete linhas de trabalhos da Umbanda, os sete caminhos, que são regidos pelo Orixá maior "Oxalá". Assim concluímos que a Umbanda é uma religião sem distinção de raças e credos e que através da fé e da humildade tem o objetivo de levar a mensagem da Caridade e do Amor ao próximo.

Com isso a espiritualidade vem conseguindo seu intento e aos poucos vemos sumir dos corações oprimidos o desejo de vingança, o ódio e o rancor, os cultos antes deturpados vem se transformando em sua essência, auxiliando assim no progresso daqueles que sintonizam com tais expressões religiosas, modificando seu aspecto e os transformando gradativamente em uma religião mais espiritualizada. Onde na palavra das entidades, a Lei da causa e efeito é ensinada por meio de "Xangô", que simboliza a justiça, a reencarnação quando falam, de sua outra vida e da oportunidade de voltar a Terra, em um novo corpo, para corrigir erros do passado e ajudar seus filhos, as forças das matas e das ervas, são ensinadas na fala dos Caboclos de "Oxóssi", o Amor é personificado em "Oxum", e a força de transformação e a energia da vitalidade se apresentam personificados em "Ogum". 

Mas ainda há muito que fazer, muito trabalho a realizar, nossa explicação não esgota o assunto, mostra apenas um aspecto da Umbanda, que guarda suas raízes em épocas muito distantes do tempo, e que apesar de ser uma religião nova, com um século de existência, vem crescendo e ganhando forças a cada dia.

Uma pena, muitos dirigentes de terreiros não serem conscientes de tudo isso, e é essa ignorância a maior responsável pela visão errada que a maioria das pessoas tem em relação aos rituais sagrados da Umbanda. Por isso é que devemos nos instruir cada vez mais sobre os fundamentos e raízes de nossa religião, e que através desse estudo e da experiência que vivenciarmos no dia-a-dia de nossos trabalhos possamos corrigir todos esses equívocos.


21 setembro, 2017

Religião - O que é e o porquê das diferentes práticas e rituais

Sabendo que as práticas e rituais das diversas seitas e religiões existentes são completamente diferentes, nos pegamos com as seguintes questões:

- Quem tem as práticas e rituais mais acertados? Os católicos? Os protestantes? Os evangélicos? Os espíritas? Os umbandistas? Os candomblecistas?
- Quem é o Deus verdadeiro? Jeová? Alá? Olorum? Zambi?

Quem de nós ainda não se fez uma dessas perguntas um dia?

Afinal, qual seguimento religioso é o mais correto?

Podemos afirmar que, mesmo dentro dos templos de uma mesma religião, sempre há diversidades em suas práticas e rituais. Para entendermos um pouco o porquê dessas diferenças começaremos explicando o que é "RELIGIÃO".

Dentro do que se define como religião podemos encontrar muitas crenças e filosofias diferentes entre si, porém ainda assim é possível estabelecer uma característica em comum entre todas elas, que é o fato de todas possuírem um sistema em crenças no sobrenatural, geralmente envolvendo divindades ou deuses, e que também costumam possuir relatos sobre a origem do universo, da terra, do homem e sobre o que acontece após a morte.

A ideia de religião, com muita frequência, contempla que essas divindades ou seres superiores, que geralmente pertencem a um sistema hierárquico, teriam influência e o poder de determinação no destino do ser humano. Eles são conhecidos como anjos, demônios, elementais, deuses, semideuses e orixás. Outras definições mais amplas dispensam a ideia dessas divindades e focalizam suas doutrinas nos papéis de desenvolvimento de valores morais, de códigos de conduta e no senso cooperativo em uma comunidade.

Buscando mais a fundo, veremos que religião pode ser definida como um conjunto de crenças naquilo que conhecemos como sobrenatural, divino, sagrado e transcendental, bem como o conjunto de rituais e códigos morais que derivam dessas mesmas crenças. Sendo assim, podemos determinar que Religião é a religação, pouco importando por que caminhos sejam, da criação, o ser, com suas raízes criadoras.

Então, desde que um grupo qualquer, em qualquer lugar do mundo, esteja trabalhando sobre si para alcançar novos níveis de conhecimentos com práticas que os levem na direção do Criador, não importando a doutrina que seguir, ele estará praticando Religião. Por outro lado, se as práticas e rituais do grupo visam muito mais a busca dos valores materiais que dos espirituais, a prática deixa de ser considerada Religião, pois não procura a religação da criação com seu Criador e sim da criatura com a matéria.

Visto por esse lado, podemos afirmar que todas as reuniões, sejam elas Espíritas, ou de Umbanda, ou os Cultos de Nação, ou os cultos Evangélicos, ou as missas Católicas, podem ser consideradas Religião desde que cumpram o objetivo de tentar religar seus adeptos ao Poder Criador, ou a Energia Criadora, ou simplesmente DEUS.

Nessa busca por Deus, são várias as doutrinas ou cartilhas que podem ser adotadas, mas sejam elas quais forem deverão sempre conduzir seu seguidor através de práticas e rituais que o elevem a níveis superiores de consciência, pois somente através da elevação da consciência ele estará no caminho de encontrar-se com seu CRIADOR ou seu DEUS.

Podemos observar, por essa sequência lógica, que não basta estarmos reunidos e falando de Deus, qualquer que seja o nome que Lhe queira dar, que estaremos praticando religião. Há algo muito mais profundo nos sentido dessa palavra, que infelizmente é esquecido por muitos, é que só estaremos realmente praticando religião quando nos predispusermos a "sair de dentro de nossa casa" e abrirmos nossos corações para o mundo buscando, seja lá por que caminhos escolhermos, nossa elevação e se possível a de outros seres com menos compreensão.

Isso explica porque a maioria das religiões prega tanto a chamada CARIDADE, que na sua essência não deixa de ser uma prática onde a pessoa se esquece de seu "mundinho", por alguns instantes que seja, no sentido de fazer um bem ao outro. E só pelo fato de se desprender de suas atribulações e agir com amor ao seu próximo por alguns instantes já faz com que naqueles breves momentos esteja se religando.

É importante que se diga, no entanto, que se a caridade não for feita de boa vontade, com a verdadeira intenção de auxílio e com o consequente desprendimento de si mesmo, ela não estará funcionando como religião ou religação. É o caso daqueles que acham que, por darem esmolas nas ruas comprarão o afeto de DEUS, mas na verdade estarão é acostumando o ser ali presente ao dinheiro fácil. Caridade fizesse, se o levassem, lhe dessem bons tratos e orientação para que buscassem seu caminho na vida.

A verdadeira caridade é aquela que dá a vara de pescar e, com amor, ensine seu uso. Dar o peixe saciaria  a fome momentaneamente, mas o aprendizado do uso da vara de pescar dá ao aflito a condição de conseguir, após a aprendizagem de seu uso, muitos outros peixes com o que se alimentará.

Já em relação às práticas e rituais utilizados pelos diferentes grupos ditos religiosos, podemos dizer que elas acontecem mais pela interpretação que os dirigentes de cada templo dão aos ensinamentos que lhe foram passados, normalmente por quem lhes ensinou a doutrina que professam, e ainda continuam sendo passados intuitivamente por seu acompanhamento espiritual. É isso mesmo! Não é porque o dirigente não é espírita que não recebe parte de seu aprendizado de entidades espirituais, a esses ensinamentos eles dão às vezes o nome de "sopro divino" ou dizem que foi por "inspiração do Espírito Santo". O que importa realmente é sabermos que mesmo que leiam ou preguem pela mesma cartilha, você sempre observará, devido a essa interpretação do dirigente, variações nos cultos e missas, mesmo nos templos da mesma religião.

Veja só como exemplo os Cultos Cristãos, seja ele Católico ou Protestante, se eles que têm como livro de consulta padrão apenas um, a Bíblia, variam seus cultos, como é que religiosos de outras linhas, que não têm um livro padrão por onde se guiarem podem executar rituais exatamente iguais? Agora  em se tratando de grupos espíritas ou espiritualistas, essa diferença acaba sendo ainda maior, pois eles têm um contato mais efetivo com entidades astrais, que os transmitem com muito mais frequência esses ensinamentos e normalmente adaptados à condição de cada grupo de trabalho, ou pela interpretação do mediador ou pelo grau de evolução da entidade que o estiver passando.

Agora já dá para respondermos as questões do início deste tema. Sendo simples a resposta a elas: TODOS ESTARÃO CORRETOS ENQUANTO SUAS PRÁTICAS E RITUAIS ESTIVEREM DIRECIONANDO SEUS ADEPTOS À RELIGAÇÃO COM SEU CRIADOR. Já os Rituais, na verdade, são meramente protocolos e rotinas criados ou intuídos pelos dirigentes, que visam colocar os adeptos em sintonia com o ambiente e consequentemente com a "egrégora" local.

Para se começar qualquer tipo de reunião religiosa, seja em que grupo for, sempre há, primeiramente, um ritual de preparação que pode ser desde o mais simples até os mais complexos, onde são inseridos diversos artifícios como: cânticos, defumações, pregações, orações e palestras. Se em qualquer um dos casos o dirigente conseguir fazer com que representantes e assistentes entrem em sintonia com as vibrações que se pretende buscar, então o ritual cumpriu o seu papel e poderá ser considerado correto para aquele fim.

Então se você quiser classificar em níveis de correção um determinado ritual será preciso verificar o quanto esse ritual cumpriu seu objetivo, o que poderá ser percebido pela força da egrégora que vai se formando, se você for um médium vidente, ou no nível de participação de todos os presentes, pois quando há respeito, atenção e participação ativa de todos certamente a egrégora é forte e o objetivo pôde ser alcançado. Encarando por esse ângulo você poderá, até dentro de um mesmo grupo, classificar o ritual utilizado ora como mais correto ora como menos correto.

Observemos agora, o que normalmente acontece em um Terreiro de Umbanda: primeiro abrem-se os trabalhos com os rituais próprios de cada casa: firmeza de velas para as entidades guias do terreiro, pontos de defumação, defumação, às vezes algumas orações; começam então os cânticos ou pontos de chamada para as entidades dirigentes, as saudações aos Orixás, até aí tudo bem, todos participando e atentos. Então, passando essa "abertura" começam os cânticos para a chegada das entidades de trabalho e a partir daí é que a seção começa a se tornar um "deus nos acuda", porque geralmente a assistência vira platéia e quem antes estava atento, normalmente pela curiosidade, começa a disputar melhor ângulo de visão; ou a conversar com o vizinho ressaltando esse ou aquele caso em que esteve envolvido; ou julgando os melhores e piores médiuns ali presentes, isso quando não podem sair do ambiente e ir lá para fora falar dos mais variados assuntos, nada relacionados aos trabalhos que estão sendo realizados.

Pois bem, qual é a consequência disto no plano astral?

1 - A egrégora, por mais bem feita que tenha sido no início, antes mesmo de conseguir atrair uma boa quantidade de energia de igual teor começa a desmontar. Se o corpo mediúnico permanecer em estado de concentração, a energia ou corrente de energia se centralizará sobre eles  e se nutrirá das energias  que eles gerarem, causando um desgaste desnecessário;

2 - Havendo pessoas realmente necessitadas na assistência, ao serem atendidas, servirão como "ralos" por onde se escoará toda a energia do ambiente, que por sua vez, para que se mantenha em um nível aceitável, deverá ser constantemente revitalizada pelo esforço desses mesmos médiuns, causando mais desgaste;

3 - Não raramente, podemos observar também, no comportamento dos próprios médiuns e cambonos e apoiadores atitudes semelhantes às dos assistidos quando, estando ali incorporada a entidade chefe ou algumas entidades, os que não estão atuando, incorporados ou auxiliando, acham-se no direito de conversarem entre si ou com a assistência, quando não ficam "de orelha em pé" para poderem escutar o que uma entidade está falando para um consulente. Nesse caso, o foco de energia ambiental diminui ainda mais em quantidade e qualidade sendo que o pouco que é gerado, o é apenas por aqueles que estão ativos, incorporados ou auxiliando.

Agora preste atenção em seu grupo. Veja se durante todo o tempo de reunião todos estão atentos e com suas mentes realmente voltadas para o sucesso dos trabalhos. E aí o que constatou? Se você ou seu grupo se encaixa  nas citações acima, comece então fazendo a sua parte, mude sua postura e seus atos, não é porque você não é médium de incorporação, que não é importante para o desenvolvimento dos trabalhos, você também é doador de energia.

Também não adianta ser hipócrita e "deixar a coisa rolar", achando que não é sua obrigação, ou que isso é responsabilidade do dirigente, ou "que se o fulano faz, eu também posso fazer", pois certamente mais cedo ou mais tarde os problemas começarão a acontecer em decorrência dessa sobrecarga.

Mas que problemas? Os mais diversos, sendo que quase sempre começam pelo abalo da saúde física e às vezes até mental de certos médiuns, passando pelas dificuldades financeiras, problemas familiares e outros mais, sem que para isso tenha necessariamente havido ação de qualquer entidade malfeitora. Bastando que haja por algum tempo um desequilíbrio entre o dar e o receber energias positivas para que a absorção de energias de baixo teor se faça e atraia consigo os mais diversos tipos de problemas.

Você duvida disso? A lei mais importante para os que lidam com a manipulação desse tipo de energia é A LEI DAS AFINIDADES, que diz: "OS IGUAIS SE ATRAEM" e ao se imantarem com energias negativas, seja pela sobrecarga gerada em uma seção ou pela sua conduta moral, os médiuns passam a ser, cada vez mais, focos de atração também para Entidades do Baixo Astral, que se sintonizam bem com essas energias e vão logo se aproximando e aproveitando a oportunidade para aumentarem mais seu sofrimento.

Aí logo perguntamos: Onde estão os Protetores? Onde estão os Guias? Eles não deveriam fazer alguma coisa?

Mas quem disse que não fazem, ou pelo menos não tentam fazer. É preciso que fique bem claro que os processos de deterioração na vida de um médium, ou de qualquer pessoa, não acontecem da noite para o dia e até que se estabeleça essa deterioração, tenha certeza de que muitos avisos são dados, isso é claro, quando há entidades verdadeiramente positivas atuando junto ao grupo.

Se um grupo no entanto não é disciplinado e principalmente não sabe ou não quer passar aos assistentes a necessidade dessa disciplina, fatalmente correrá o risco de amanhã estar envolvido com os mesmos problemas daqueles que hoje os procuram para pedir ajuda.

Para uma participação efetiva em qualquer ritual religioso é preciso que o conceito de DISCIPLINA esteja vivo na consciência de todos. Devemos parar de cometer um mundo de insanidades e começar a assumir as besteiras que fazemos e antes de sair pondo a culpa por tudo que acontece nas nossas vidas na Religião ou na espiritualidade. E você, se for uma pessoa consciente e de bons princípios, como umbandista ou praticante de qualquer outra corrente espiritualista, tem a obrigação de ser pelo menos honesto aos seus princípios e procurar fazer a sua parte.

Não devemos também ficar combatendo e atacando, mesmo que por defesa, essa ou aquela religião, pois não é com combate a outros grupos religiosos que vamos fazer da nossa Umbanda, ou qualquer outra religião, um exemplo a ser seguido. Muito pelo contrário, se nós umbandistas, ou os espíritas, ou militantes dos Cultos de Nação, pretendemos ver nossos "santuários e doutrinas" respeitados, devemos começar primeiramente respeitando nós mesmos nossas próprias doutrinas, as estudando e as praticando honestamente.

Não seria, de forma alguma, combatendo grupos e doutrinas que se faria vigorar a nossa como a dona da verdade, já que nenhuma delas o é na totalidade. É preciso que se observe em cada uma o que há de realmente positivo e para melhor analisarmos é necessário que comecemos antes por "arrumar a nossa própria casa".

Sejamos conscientes de que essa grande variedade de religiões e seitas que existem no Brasil e no mundo, são frutos das diversas correntes filosóficas espirituais existentes também no Mundo Astral e se formam na Terra em virtude da maior ou menor aceitação dos seres encarnados que à elas vão se achegando, de acordo com o que julgam ser melhor para cada um, através da Lei da Afinidade.

Continuemos sempre em busca do verdadeiro caminho, seja ele qual for, tendo a certeza de que NINGUÉM É DONO DA VERDADE e o principal objetivo de uma religião deva sempre ser a evolução de seus adeptos, independentemente de sua doutrina, suas práticas e seus rituais.


20 setembro, 2017

Por que devemos estudar a Umbanda?

Estamos aqui não para apresentar uma nova filosofia sobre a UMBANDA, mas sim um modelo, uma tese, baseada em muita pesquisa e estudos em livros, sites, listas de e-mail, conversas com dirigentes de terreiros, na própria vivência do dia-a-dia dos trabalhos e nas palavras dos Orixás e dos grandes mensageiros da Umbanda.

Sabemos que cada terreiro de Umbanda tem seus fundamentos, sua direção, sua liderança, seus princípios, sua história e suas particularidades tanto quanto nos rituais de culto quanto nas doutrinas professadas. Sabemos também que não existe uma doutrina única da Umbanda, mas podemos afirmar que ela tem suas raízes fundamentadas nos cultos de nação, indígena, espírita e cristão, abrindo assim um leque de diversidades onde se justificam todas essas diferenças. Então, devemos começar por respeitar essas diferenças, pois para entendermos essas particularidades se faz necessário um estudo detalhado das origens de cada casa.

Hoje com o avanço das tecnologias e das ciências, o homem mudou muito seus conceitos em relação ao mundo onde vive, sobre si mesmo e o sobrenatural. Podemos ao simples toque de uma tecla, acessar vários materiais divulgados nos diversos meios de mídias, onde vemos cada vez mais exposto as particularidades de cada terreiro. A facilidade a esse conteúdo muita das vezes faz com que um terreiro acabe, mesmo que subjetivamente, influenciando um ao outro, havendo assim uma troca de experiências e de conhecimentos, o que de certo modo vem sendo muito importante para o crescimento da Umbanda.

Esse diálogo através da mídia vem se fundamentando cada vez mais, tornando-se raros os grupos que se fecham não procurando estudar e aprender com essas diversidades. Acreditamos que através desse diálogo e de um debate aberto, se possa chegar a um consenso quanto a Doutrina da Umbanda e o respeito mútuo entre seus praticantes.

Os dirigentes de terreiros, que ainda não o fazem, deveriam começar a dar a devida importância também aos estudos doutrinários, para que o novo adepto tenha uma base sólida e bem desenvolvida, assim ele próprio poderá discernir quanto o que é "certo" e o dito "errado". Sem esse estudo, o adepto ficará sem fundamentos, sem bases, o que alimentará ainda mais a ignorância e discórdia entre os umbandistas.

Em muitos terreiros ainda não existe um estudo teórico e fundamentado da religião. O que impera, infelizmente, é que este estudo é desnecessário e que devemos apenas seguir as orientações recebidas dentro do terreiro, essas que em sua maioria são somente práticas, onde o adepto aprende através da vivência e da observação no dia-a-dia de seus trabalhos na casa, ou conversando e tirando suas dúvidas com os outros filhos do terreiro.

Não se permite também, de forma alguma, que um médium visite outro terreiro, justificado muitas vezes, pelo dirigente, pelas demandas que enfrentarão. Assim vemos muitos terreiros ainda fechados a preceitos antigos. Deixamos claro aqui que até concordamos em parte com essa proibição, quando é pela falta de preparo do médium e/ou por ele ainda estar em fase de desenvolvimento.

Por isso se faz necessário o estudo aprofundado da Doutrina Umbandista, não como imposição, mas como um diálogo aberto. O adepto deve sim seguir as orientações da casa, seus fundamentos, mas nada impede que ele como forma de estudo pesquise todas as correntes, suas literaturas e rituais, essa pesquisa deve ser vista como forma de enriquecimento do saber, o que certamente servirá para agregar valores aos fundamentos do médium e da própria casa.

Vemos, na maioria das vezes, a Umbanda sendo abordada em debates por dois aspectos: Razão e Emoção.

Quando é abordada pela Emoção utilizam-se a fé e a afinidade de pensamentos, se fechando assim à outras abordagens e explicações tanto para os fenômenos quanto aos rituais. Por outro lado quando ela é abordada pela Razão se utilizam somente do conceito lógico para buscar essas explicações.

As duas formas são necessárias, mas se levadas ao extremo podem acarretar grandes problemas. Por exemplo: quando agimos somente com a Emoção agimos de forma cega e não admitimos ser contrariados, nos fechando a um fundamento e isto é suficiente. O grande perigo neste tipo de abordagem é a proliferação do fanatismo religioso, onde pela ignorância podemos ser levados ao erro, e só fazemos isso ou aquilo quando o dirigente ou o mentor da casa disser para fazer. Em prática, isso nos leva ao ostracismo, a obtusação e a nos tornarmos marionetes ou meros fantoches.

Mas também pode ser muito perigoso agirmos somente com a Razão, levando em consideração somente a lógica, o pensamento científico e a pesquisa aprofundada na busca de uma explicação dos assuntos, se essa abordagem for levada ao extremo, nos tornará materialistas e pretensos donos da verdade.

É preciso então, procurar um ponto de equilíbrio entre ambas, Razão e Emoção, sempre buscando, com bom senso, as explicações e fundamentos com a cabeça aberta ao diálogo e ao novo. A Doutrina da Umbanda deve ser baseada nesse equilíbrio, facilitando o conhecimento dos temas abordados e solidificando a cada dia seus fundamentos.

Não devemos estudar a Umbanda sem levar em consideração todas as suas raízes, nos limitando somente à prática da incorporação mediúnica, muito menos perder tempo discutindo os rituais utilizados por este ou aquele terreiro, devemos deixar esta questão para outro estágio e nos aprofundarmos nas suas origens para assim construirmos convicções sólidas baseadas na verdade, no amor e na caridade, pois só assim veremos os rituais se modificando por si próprios.


19 setembro, 2017

O que é Umbanda?!

"O nome de Umbanda, que foi dado a um vigoroso movimento de luz, ordenado pelo Astral Superior, através dos Caboclos e Pretos Velhos, é termo litúrgico, sagrado, vibrado, que significa num sentido mais profundo, o conjunto das leis de Deus."
W.W. da Matta e Silva


"A doutrina da Umbanda é um sistema religioso inspirado nas leis divinas. Sua interpretação é feita pelos Guias Espirituais que a transmitem por via das comunicações mediúnicas. A lógica, a justiça e a razão são as bases dos conceitos emitidos pelas Entidades em torno de tudo o que nos rodeia na vida terrena. A doutrina umbandista é uma via de reformação humana, de espiritualização autêntica para transformar em realidade o almejado sonho de fraternidade entre os homens. Não é falsa asserção, pois é notório o resultado obtido com a doutrina ininterruptamente feita pelos espíritos missionários que se apresentam como Pretos Velhos ou Caboclos."
João de Freitas


"Não cobrar, não matar, usar o branco, evangelizar e utilizar as forças da natureza - eis a Umbanda."
Moab Caldas


"Os conceitos emitidos através da mediunidade de Zélio de Moraes determinaram uma linha de trabalho que será, mais hoje, mais amanhã, aquela que definirá os rumos verdadeiros da Umbanda."
Floriano Manoel da Fonseca


"Estamos vivendo uma religião para o futuro e não para o momento presente; o conteúdo doutrinário e a orientação filosófica devem ser estudados e apreciados de modo seguro e preciso, porque o proselitismo é o meio visado para propagar as ideias e estas devem estar desenvolvidas, permitindo o raciocínio em função da época científica em que vivemos. Umbanda é o ponto de convergência ritual na fusão de raças e crenças, como processo evolutivo num sentido de espiritualização. É o resultado da evolução do polissincretismo religioso existente no Brasil, no qual influíram motivações diversas, inclusive de ordem social, originando um novo culto de feição brasileira, num aspecto de síntese para o futuro. Estratificadas as bases reais e concretas, caminhando para uma definição ritual e litúrgica, será, como qualquer religião, sublime em seus postulados, edificante em seus princípios, respeitável em seus propósitos, reconfortante para os sofredores, compreensiva com os pecadores e justa em suas leis."
Cavalcanti Bandeira


"A Umbanda, esteira de luz a iluminar os filhos de Deus nos caminhos das trevas, chama a si todas as doutrinas evolucionistas que proclamam o Amor Universal, a imortalidade da alma e a vida futura, consagrando-se como verdadeira religião de caráter nacional."
J. Alves de Oliveira


"Se a nossa missão é Umbanda, nosso dever primordial é cultuá-la com absoluta convicção, respeitando seus princípios, estudando seus fundamentos a fim de compreender os seus fins. Respeitemos as outras crenças, mas deixemo-las a cargo daqueles que a praticam. Não é certo misturar crenças e rituais. Estudemos a Umbanda, pura, simples e bela, para que possamos praticá-la conscientemente, elevando-a ao nível que merece. Umbanda é religião e ciência admirável, que apaixona quem a ela se dedica."
Átila Nunes


"Religião de raízes antiquíssimas, cujas as origens remontam a eras anteriores ao Cristianismo, sua liturgia encontra-se a cada passo do Velho e do Novo Testamento, nos templos do Egito e da Índia e na própria Igreja Católica. Por mais remota que seja uma religião, nela encontraremos os vestígios da Umbanda, ou seja, sob outro ponto de vista, de cada uma delas a Umbanda dos nossos dias colheu uma contribuição para consolidar a sua própria liturgia. Mas assim como a velha religião mosaica, à qual pertenciam os homens que falavam face à face com o próprio Deus, teve de ser expurgada por Jesus de todo rito impuro, a Umbanda deixou para trás a seita que os cientistas classificavam de animismo fetichista e, libertada dos rituais complexos, pesados e, por vezes, contrários às normas de bondade, caridade e perdão, passou a ser o caminho mais simples e acessível para o homem se aproximar do Criador."
José Alvares Pessoa