20 setembro, 2017

Por que devemos estudar a Umbanda?

Estamos aqui não para apresentar uma nova filosofia sobre a UMBANDA, mas sim um modelo, uma tese, baseada em muita pesquisa e estudos em livros, sites, listas de e-mail, conversas com dirigentes de terreiros, na própria vivência do dia-a-dia dos trabalhos e nas palavras dos Orixás e dos grandes mensageiros da Umbanda.

Sabemos que cada terreiro de Umbanda tem seus fundamentos, sua direção, sua liderança, seus princípios, sua história e suas particularidades tanto quanto nos rituais de culto quanto nas doutrinas professadas. Sabemos também que não existe uma doutrina única da Umbanda, mas podemos afirmar que ela tem suas raízes fundamentadas nos cultos de nação, indígena, espírita e cristão, abrindo assim um leque de diversidades onde se justificam todas essas diferenças. Então, devemos começar por respeitar essas diferenças, pois para entendermos essas particularidades se faz necessário um estudo detalhado das origens de cada casa.

Hoje com o avanço das tecnologias e das ciências, o homem mudou muito seus conceitos em relação ao mundo onde vive, sobre si mesmo e o sobrenatural. Podemos ao simples toque de uma tecla, acessar vários materiais divulgados nos diversos meios de mídias, onde vemos cada vez mais exposto as particularidades de cada terreiro. A facilidade a esse conteúdo muita das vezes faz com que um terreiro acabe, mesmo que subjetivamente, influenciando um ao outro, havendo assim uma troca de experiências e de conhecimentos, o que de certo modo vem sendo muito importante para o crescimento da Umbanda.

Esse diálogo através da mídia vem se fundamentando cada vez mais, tornando-se raros os grupos que se fecham não procurando estudar e aprender com essas diversidades. Acreditamos que através desse diálogo e de um debate aberto, se possa chegar a um consenso quanto a Doutrina da Umbanda e o respeito mútuo entre seus praticantes.

Os dirigentes de terreiros, que ainda não o fazem, deveriam começar a dar a devida importância também aos estudos doutrinários, para que o novo adepto tenha uma base sólida e bem desenvolvida, assim ele próprio poderá discernir quanto o que é "certo" e o dito "errado". Sem esse estudo, o adepto ficará sem fundamentos, sem bases, o que alimentará ainda mais a ignorância e discórdia entre os umbandistas.

Em muitos terreiros ainda não existe um estudo teórico e fundamentado da religião. O que impera, infelizmente, é que este estudo é desnecessário e que devemos apenas seguir as orientações recebidas dentro do terreiro, essas que em sua maioria são somente práticas, onde o adepto aprende através da vivência e da observação no dia-a-dia de seus trabalhos na casa, ou conversando e tirando suas dúvidas com os outros filhos do terreiro.

Não se permite também, de forma alguma, que um médium visite outro terreiro, justificado muitas vezes, pelo dirigente, pelas demandas que enfrentarão. Assim vemos muitos terreiros ainda fechados a preceitos antigos. Deixamos claro aqui que até concordamos em parte com essa proibição, quando é pela falta de preparo do médium e/ou por ele ainda estar em fase de desenvolvimento.

Por isso se faz necessário o estudo aprofundado da Doutrina Umbandista, não como imposição, mas como um diálogo aberto. O adepto deve sim seguir as orientações da casa, seus fundamentos, mas nada impede que ele como forma de estudo pesquise todas as correntes, suas literaturas e rituais, essa pesquisa deve ser vista como forma de enriquecimento do saber, o que certamente servirá para agregar valores aos fundamentos do médium e da própria casa.

Vemos, na maioria das vezes, a Umbanda sendo abordada em debates por dois aspectos: Razão e Emoção.

Quando é abordada pela Emoção utilizam-se a fé e a afinidade de pensamentos, se fechando assim à outras abordagens e explicações tanto para os fenômenos quanto aos rituais. Por outro lado quando ela é abordada pela Razão se utilizam somente do conceito lógico para buscar essas explicações.

As duas formas são necessárias, mas se levadas ao extremo podem acarretar grandes problemas. Por exemplo: quando agimos somente com a Emoção agimos de forma cega e não admitimos ser contrariados, nos fechando a um fundamento e isto é suficiente. O grande perigo neste tipo de abordagem é a proliferação do fanatismo religioso, onde pela ignorância podemos ser levados ao erro, e só fazemos isso ou aquilo quando o dirigente ou o mentor da casa disser para fazer. Em prática, isso nos leva ao ostracismo, a obtusação e a nos tornarmos marionetes ou meros fantoches.

Mas também pode ser muito perigoso agirmos somente com a Razão, levando em consideração somente a lógica, o pensamento científico e a pesquisa aprofundada na busca de uma explicação dos assuntos, se essa abordagem for levada ao extremo, nos tornará materialistas e pretensos donos da verdade.

É preciso então, procurar um ponto de equilíbrio entre ambas, Razão e Emoção, sempre buscando, com bom senso, as explicações e fundamentos com a cabeça aberta ao diálogo e ao novo. A Doutrina da Umbanda deve ser baseada nesse equilíbrio, facilitando o conhecimento dos temas abordados e solidificando a cada dia seus fundamentos.

Não devemos estudar a Umbanda sem levar em consideração todas as suas raízes, nos limitando somente à prática da incorporação mediúnica, muito menos perder tempo discutindo os rituais utilizados por este ou aquele terreiro, devemos deixar esta questão para outro estágio e nos aprofundarmos nas suas origens para assim construirmos convicções sólidas baseadas na verdade, no amor e na caridade, pois só assim veremos os rituais se modificando por si próprios.


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