21 dezembro, 2012

Viagem Interior pode trazer conhecimento

Fernando Pessoa, com sua inteligência e sensibilidade, afirmava: "a melhor maneira de viajar é sentir". Concordo. Não é preciso sair de casa, embarcar em ônibus ou avião, para poder explorar as maravilhas que o mundo oferece.

Não é a mudança de paisagem que faz com que o nosso interior se ilumine. Aliás, o movimento é inverso. Uma iluminação da nossa intimidade permite que o mundo exterior ganhe outra dimensão e seja encarado num contexto diferente. Nesse sentido, se pensarmos na questão do misticismo, os passeios feitos pela nossa espiritualidade aguçam nossa capacidade em abraçar mais legitimamente o mundo ao redor. Passeios de autodescoberta não necessitam jamais de deslocamento pelo espaço físico ou novas experiências concretas.

Não, estimados leitores, não achem que sou estraga prazeres. Reconheço que há lindos destinos turísticos, incríveis capitais para serem visitadas, lugarejos convidativos e transatlânticos paradisíacos cortando os sete mares. São propostas convidativas, objetos do desejo de qualquer peregrino. Quem recusaria uma semana em Roma, cinco dias em Paris, umas horinhas que sejam em Nova York?

O mundo das viagens é assim: solitários, casais, grupos, famílias, vão e vem. Animados. Alegres, curtindo férias merecidas. É temporada de lazer, de esquecer problemas, de recarregar as pilhas, oxigenar. Contudo, o que quero destacar aqui é o seguinte: não viajar não significa estar impedido de vivenciar experiências profundas.

O que chamo de experiência profunda vai além do superficial e transcende as referências cotidianas. Tanto faz estar aqui ou ali, no alto da Torre Eifel ou no mais agitado brinquedo da Disney. Ela vai por dentro, pela intimidade singular de cada um de nós.

A viagem é acreditada como uma porta para passarmos para o reino dessas vivências transformadoras. E está correto, pois é uma das alternativas. Mas, que fique claro, eu disse "uma", e não "a única" alternativa. Existem outras possibilidades de contato com a intimidade que podem ser mais acessíveis. Redescobrir o encantamento do mundo ao redor, desfrutar profundamente da mais simples ação ou gesto cotidiano.

Permita-se viajar parado, percorrer a sua própria geografia interior. Como? Diversas alternativas. Um bom filme, um livro interessante, uma música agradável ou os pequenos prazeres que acariciam a alma e refinam nossa humanidade. Mas quero deixar um convite final: descasque uma laranja com calma, aprecie a tarefa. Depois, veja se você concorda com a reflexão do poeta que apresentei na primeira linha desse texto.


Texto de Marina Gold.

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