07 dezembro, 2012

As Origens da Umbanda

Nada surge do nada, nada há de novo sob o sol, todas as religiões se formam de cultos e culturas anteriores, que lhe emprestam símbolos, ritos e mitos combinados e re-significados. Assim foi com o Judaísmo, Cristianismo, Islã, Hinduísmo, Budismo, etc e não seria diferente com a Umbanda.

A Umbanda enquanto um organismo vivo nos possibilita reconhecer sua ancestralidade, na forma de uma árvore genealógica, identificando suas "origens". Nossa proposta aqui é apresentar estas raízes diversas, para em seguida levantarmos a questão de seu nascimento ou concretização no mundo material.

1. Origem Espírita ("Kardecista")
A primeira manifestação de Umbanda é a incorporação do Caboclo das Sete Encruzilhadas no médium Zélio de Moraes, ao que consta, dentro da recém fundada Federação Espírita de Niterói. Zélio não era espírita, embora seu pai fosse simpatizante. De qualquer forma, o que ele encontrou na filosofia e prática, codificada por Allan Kardec, serviria como base para a criação da Umbanda. 

De tal forma que durante muitas décadas costumava-se definí-la como "Espiritismo de Umbanda". O próprio Zélio se identificava como "espírita" assim como sua filha Zilméia de Moraes. Na Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade sempre havia uma "Mesa Branca" posta para as acomodações do "Chefe" (Caboclo das Sete Encruzilhadas).

2. Origem Africana
A palavra Umbanda já existia na África, antes de surgir a Religião de Umbanda no Brasil, aqui e lá esta mesma palavra se refere a práticas rituais que guardam semelhanças e diferenças, pois não são a mesma coisa. Este fato cria algumas confusões com relação "A" Origem da Umbanda.

Em nosso ponto de vista a Umbanda tem várias origens diferentes e a Africana é uma delas, com a mesma importância que as outras. Ainda assim, houve, no meio umbandista, aqueles que defendessem "A" origem africana como uma única fonte original e outros ainda que vieram a manipular esta mesma origem para desacreditá-la, apenas como uma passagem da mesma Umbanda pelo continente africano.

3. Origem Indígena
De sua raiz indígena a Umbanda recebe o amor à natureza e influência do xamanismo caboclo e pajelança, bem como o uso do fumo que é considerado erva sagrada para os índios. Um culto irmão da Umbanda, o Catimbó, Jurema ou Linha dos Mestres da Jurema, também realiza trabalhos com entidades espirituais de forma muito parecida com esta, sob influência direta do Toré, que é uma prática essencialmente indígena.

A Umbanda e o Catimbó trabalham com algumas entidades em comum como por exemplo o tão conhecido Mestre Zé Pelintra, juremeiro muito presente na Umbanda.

O uso de chás, banhos de ervas e defumações é algo em comum para indígenas, africanos e europeus. Em muitas tendas de Umbanda se vê o uso do Maracá (chocalho indígena) e outros elementos como penachos e cocares, usados pelas entidades incorporadas, que dá todo um ar indígena para Umbanda.

4. Origem Cristã e Origem Católica
O Cristianismo faz parte da cultura brasileira e está profundamente enraizado no inconsciente coletivo desse povo, que mesmo quando tornam-se budistas não deixam de se considerarem cristãos por encontrar enorme coincidência entre a ética budista e a de Cristo. O mesmo ocorre com as outras religiões, Candomblecistas, Umbandistas, kardecistas, Hare Krishnas e até alguns muçulmanos brasileiros se consideram cristãos, se não abertamente, na intimidade com os amigos tal fato é revelado. Zélio Fernandino de Moraes funda a primeira tenda de Umbanda e lhe dá o nome de Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade, "porque assim como Maria acolheu Jesus a Umbanda acolherá os filhos seus".

De todos os elementos Católicos na Umbanda, um que chama muito a atenção é o sincretismo entre Santos Católicos e Orixás. O sincretismo une dois elementos ou idéias e cria uma terceira, composta e derivada destas. Assim reconhecemos que a Umbanda não criou o sincretismo entre Santos e Orixás, ela apenas absorveu a prática já usada nos barracões dos diferentes Cultos Afros, todos cristianizados para sobreviver na "Terra de Santa Cruz" ou seria de "Vera Cruz" ( o fato é que santa ou vera a cruz foi sentida no tronco e chicote a castigar quem praticasse "africanismo", considerado "feitiçaria dos negros").

5. Origem Mágica
Boa parte dos autores umbandistas afirmam que Umbanda é Magia, encontrando na mesma o sentido e a origem de ser da religião. O que fundamenta este raciocínio é a larga utilização de elementos mágicos e rituais nas práticas umbandistas.

Observamos desde trabalhos mais requintados sugeridos pela literatura umbandista até a forma mais popular de magia (como benzimentos, rezas fortes, passes (imposição das mãos), receitas de banhos e chás.

As entidades de Umbanda manifestam diferentes procedimentos para realizar sua magia, o que pode ser justificado pela variedade cultural que se mostra por meio do arquétipo assumido por elas como caboclo, preto-velho, baiano, boiadeiro, marinheiro, orientais (chineses, hindus, persas e outros), exus e pombagiras. A rigor, cada um tem a sua magia, no entanto, as práticas transitam entre xamanismo, pajelança, magia afro ofertatória (relacionada com os Orixás e suas oferendas), teurgia (magia européia) e o que se pode chamar de Magia de Umbanda, práticas comuns a quase todas as entidades, como o uso de pontos riscados, que consistem em signos e símbolos mágicos riscados no chão com um giz chamado de "pemba". Durante as práticas são combinados um conjunto de elementos como velas, fumo, bebida, ervas, espadas punhais, ponteiros, pedras, correntes, ponteiros e outros.

6. Origem Espiritual
Como Origem Espiritual, colocamos a certeza dos umbandistas de que sua religião foi organizada no astral pelos Caboclos e Pretos-Velhos, para depois ser implantada no Brasil.

7. Origem Mítica
Origem Mítica é a busca por um Mito Fundante, um Mito Original ou se preferir uma Raiz Mítica para a Umbanda.

Vamos encontrar nas religiões e ordens místico-filosóficas os mais variados tipos de "Mitos Fundantes", como o mito de Adão e Eva para o Judaísmo, Cristianismo e Islamismo; o mito de Olorum e Oxalá na cultura Yorubá; o mito de Urano, Cronos e Zeus na cultura grega; o mito de Aton, Ptah e Amon na Cultura Egípcia e outros mais, cada religião possui seus mitos para lhe dar sentido.

Intelectuais umbandistas criaram um "Mito Fundante" moderno, emoldurado em discurso pseudo-científico, justificado por uma pretensa erudição e cultura forjadas para defender a idéia de que a Umbanda é a verdadeira religião primordial, surgida em uma era perdida, na civilização dos Atlantas e da Lemúria.

Neste continente mítico, Atlântida, em uma época mítica, teria surgido o AUMBANDÃ, religião pura que migrou para a Índia e África, onde se degenerou e podemos encontrar ainda fragmentos de sua origem nas culturas destes dois povos. A palavra AUM-BANDÃ de origem que se perde nos tempos teria traduções possíveis em línguas e culturas antigas como "Conjunto das Leis Divinas".

Tal teoria implicou em arrogância teológica e postura de soberba, inclusive com relação aos demais umbandistas que não comungavam dos mesmos valores. Seriam os novos eleitos da Umbanda, aqueles que iriam resgatar o Mito Aumbandam. A base para esta teoria foi lançada no Primeiro Congresso Brasileiro do Espiritismo de Umbanda - 1941, seria contada e recontada, copiada e adaptada na literatura posterior, conclamando instaurar o Aumbandã perdido na Lemúria, Atlântida ou Índia.


Texto de Alexandre Cumino

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