25 maio, 2013

Sete Lágrimas de um Preto-Velho

Num cantinho de um terreiro, sentado num banquinho, fumando seu cachimbo, um triste Preto-Velho chorava. De seus "olhos" molhados, esquisitas lágrimas pelas faces e sei porque contei-as. Foram sete. Na incontida vontade de saber aproximei-me e o interroguei:

- Fala meu Preto-Velho, diz ao teu filho por que externas assim uma tão visível dor? E ele suavemente respondeu:

- Estás vendo esta multidão que entra e sai? As lágrimas contadas estão distribuídas a cada uma delas.

A PRIMEIRA, eu dei a estes indiferentes que aqui vem à busca de distração, para saírem ironizando aquilo que suas mentes ofuscadas não podem conceber...

A SEGUNDA, a esses eternos duvidosos que acreditam, desacreditando, na expectativa de um milagre que os façam alcançar aquilo que seus próprios merecimentos negam...

A TERCEIRA, distribuí aos maus, aqueles que somente procuram a Umbanda, em busca de vingança, desejando sempre prejudicar a um seu semelhante.

A QUARTA, aos frios e calculistas que sabem que existe uma força espiritual e procuram beneficiar-se dela de qualquer forma e não conhecem a palavra gratidão...

A QUINTA, chega suave, tem o riso, o elogio da flor dos lábios, mas se olharem bem o seu semblante, verão escrito: "Creio na Umbanda, nos teus caboclos e no teu Zambi, mas somente se vencerem o meu caso, ou me curarem disso ou aquilo!"

A SEXTA, eu dei aos fúteis que vão de centro em centro não acreditando em nada, buscam aconchegos e conchavos e seus olhos revelam um interesse diferente...

A SÉTIMA, filho, nota como foi grande e como deslizou pesada? Foi a última, aquele que vive nos "olhos" de todos os Orixás. Fiz doação dessas aos médiuns vaidosos que só aparecem no centro em dia de festa e faltam às doutrinas. Esquecem que existem tantos irmãos precisando de caridade e tantas criancinhas precisando de amparo materno e espiritual...

Assim, filho meu, foi para esses todos, que vistes cair, uma a uma as Sete Lágrimas de um Preto-Velho.


Retirado do livro "Umbanda de Todos Nós"
W. W. da Matta e Silva (Mestre Yapacany)

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