29 outubro, 2011

Como compreender a Umbanda?

Há três anos atrás o Brasil inteiro comemorou os 100 anos da Umbanda, mas nem todos se deram conta do quanto conquistamos com este marco, que pode parecer pouco em comparação à idade cronológica das outras religiões, porém, o que ganhamos não tem nada a ver com tempo e sim com reconhecimento.

Aos poucos, as pessoas e os próprios umbandistas estão se dando conta de que a Umbanda é uma Religião Brasileira. Com todos os prós e contras que esta identidade oferece. O brasileiro vive uma relação de amor e ódio consigo mesmo (com o que é brasileiro), adoramos nossas qualidades e detestamos nossos defeitos. Somos um povo apaixonado e Umbanda é uma Religião apaixonante, é brasileira, tem ginga, encanto e magia. Umbanda se canta em verso e prosa; se toca no nagô, angola e ijexá; batendo o ritmo na palma da mão, para quem quiser ver. Umbanda dança, gira e roda nas voltas de nosso coração, para nos tirar do eixo de comodismo e mesmice que a sociedade nos condicionou, com seus dias; protocolos e métodos repetitivos, iguais e mecânicos.

Umbanda cheira guiné, arruda e alecrim; mirra incenso e benjoin. Umbanda nos pega pelos cinco sentidos e nos leva ao transcendente para além do sexto e sétimo sentidos. Umbanda é a Cachoeira de Oxum, a Mata de Oxóssi, a Pedreira de Xangô, o grito do caboclo, o cachimbo do Preto-Velho, a presença do Cristo. São Jorge, Santa Bárbara, Santo Expedito e Padre Cícero nos ensinam que há  muito mais que sincretismo entre culturas, há sim o encontro, a presença, o olhar.

Êxtase Religioso, Transe Mediúnico, Estado Alterado de Consciência são palavras para descrever o indescritível, o momento em que passamos do ser ao "não-ser", do vazio à plenitude, de Exu à Oxalá, do EU ao NÓS, ao ponto de não saber mais se eu sou EU, nós ou Ele. Louco é pouco, já diziam os mestres que a sanidade do mundo é loucura para o sagrado e que o Sagrado é a loucura de Deus. Ser médium é muitas vezes andar de olhos fechados num precipício em que a única corda que temos é nossa fé esticada de um lado ao outro entre a terra e o céu, ou melhor, a Aruanda.

E se não bastasse tudo isso ainda nos traz uma proposta de maturidade religiosa, não pede conversão, não tem tabus nem dogmas, aceita cada um de nós sem julgamentos, jovem que é respeita os mais velhos, se diverte com as crianças e liberta das amarras sociais, emocionais e psicológicas, nas quais a razão quase sempre prepara armadilhas.

Ajoelhada ao lado do preto-velho mata nosso ego, junto do caboclo nos desafia a rasgar o peito e mostrar onde está nosso coração, pelo exemplo pede que todos nós estejamos abertos a reaprender o que é bom com a criança.

A Umbanda reza, ora e faz prece aos Santos, Orixás, Anjos, Arcanjos e Guias, sem exclusividade nenhuma. Também não reconhece sectarismos ou proselitismos com relação às divindades que assim como o sol, nasce para todos. Espíritos de origens e culturas diversas se unem e integram numa mesma direção, numa mesma BANDA, nesta que quer ser UM com o outro.

E quem vai explicar tudo isso? Como entender e dar sentido para algo tão exuberante, quase exótico; colcha de retalhos ou fina tapeçaria? E da esquerda nos parece vir uma voz firme a responder que somos guardiões destes mistérios, não cabe a nós entendê-los todos e sim, respeitar, bater cabeça e silenciar.

Como compreender a Umbanda? Comece procurando compreender a si mesmo e quem sabe um dia ao encontrar respostas para suas questões mais profundas e existenciais encontra também algumas respostas sobre Umbanda.

(Texto de Alexandre Cumino)

Nenhum comentário:

Postar um comentário