29 abril, 2012

O Bom Médium...

Estudar a mediunidade, estudar incansavelmente sobre espiritualidade, desenvolver técnicas de meditação para auto-conhecimento, faz parte do caminho de cada um para obter mais conhecimento, mais experiência, viver melhor e com mais abrangência, e sobretudo ser útil, ativo em sua plenitude de ser humano.
A mediunidade é dom inato, e entendemos que ela se manifesta em qualquer classe social, e não tem limites quanto à escala moral que a pessoa se encontre. Se os bons espíritos fossem esperar para dar seus recados através das pessoas próximas da perfeição, levariam séculos de mensagem para mensagem. São muito verdadeiras as palavras de Jesus, segundo o evangelho de Mateus no Novo Testamento: "Não são os que gozam saúde que precisam de médico".
Porém, ao estudar estas palavras sob o pensamento de Allan Kardec, no capítulo XXIV do seu livro "O Evangelho segundo o Espiritismo", percebemos uma certa contradição, cujas palavras precisam ser analisadas e que nos levaram a proveitosas reflexões.
Vamos tentar compreender suas palavras:
"Se só aos mais dignos fosse concedida a faculdade de comunicar com os Espíritos, quem ousaria pretendê-la? Onde, ao demais, o limite entre a dignidade e a indignidade? A mediunidade é  conferida sem distinção, a fim de que os Espíritos possam trazer a luz a todas as camadas, a todas as classes da sociedade, ao pobre como ao rico; aos retos, para fortificar no bem, aos viciosos para os corrigir. Não são estes últimos os doentes que necessitam de médico? Por que Deus, que não quer a morte do pecador, o privaria do socorro que o pode arrancar ao lameiro? Os bons Espíritos lhe vêm em auxílio e seus conselhos, dados diretamente, são de natureza a impressioná-lo de modo mais vivo, do que se os recebesse indiretamente. Deus, em sua bondade, para lhe poupar o trabalho de ir buscá-la longe, nas mãos lhe coloca a luz".
Verificamos no nosso dia a dia dentro da casa espírita, e dentro do terreiro de Umbanda, que a grande maioria chega pela Dor, através de manifestações desequilibradas da mediunidade, sob a forma de obssessões mais ou menos graves, as quais prejudicam a vida do consulente, a ponto de lhe roubar a saúde, as condições de trabalho e convívio social e com sua própria família. Muitos médiuns começaram desta forma, despertando das faculdades através daqueles entes desencarnados que o assediavam, implacavelmente, a partir de vinganças de vidas passadas, ou através das vibrações que nesta vida a pessoa estivesse atraindo para si. Uma vez esclarecida e chamada à disciplina do trabalho mediúnico, tornaram-se novas pessoas, administrando sua vida e seus passos, e em contrapartida tomando-se assíduos participantes das reuniões mediúnicas, sempre prontos a trabalhar. A partir destas primeiras experiências sofridas, aprenderam a identificar as armadilhas do animismo e dos falsos depoimentos e conselhos de espíritos perturbadores, o que os tornam mais aptos e mais fortes de ultrapassar os transtornos. Realmente cumpre-se a sabedoria de Jesus, não são os que gozam de Saúde espiritual que precisam da providência abençoada dos espíritos guias e orientadores.
"A mediunidade não implica necessariamente relações habituais com os Espíritos superiores. E apenas uma aptidão para servir de instrumento mais ou menos dúctil aos Espíritos, em geral. O bom médium, pois, não é aquele que comunica facilmente, mas aquele que é simpático aos bons Espíritos e somente deles tem assistência. Unicamente neste sentido é que a excelência das qualidades morais se torna onipotente sobre a mediunidade".
Nesta passagem de Allan Kardec, tive o cuidado de ir até a edição em francês, e com ajuda dos dicionários da rede verifiquei que a tradução está perfeita. Porém, algo destoa da afirmação de Kardec: O bom médium, pois, não é aquele que comunica facilmente, mas aquele que é simpático aos bons Espíritos e somente deles tem assistência.

Para nós, médiuns de Umbanda, é necessário sim, estreita correlação com o guia, uma comunicação fácil, fluente e profunda, pois o guia utiliza de nosso instrumento físico. Diferente do médium espírita, onde a comunicação se dá quase apenas mentalmente. Para nós é uma verdadeira armadilha achar que somente Espíritos bons e evoluídos estarão se comunicando, mesmo com todas nossas boas intenções e disciplina. Aí que eu acho a contradição: Porque não são os sãos que precisam de médico. Nas páginas do "O Livro dos Médiuns" e na "Revista Espírita" estão recheados de relatos de espíritos sofredores e são estes quem aparecem no nosso dia a dia, quer pedindo ajuda, quer querendo nos atrapalhar, quer atrapalhando com um objetivo, quer porque já estão subjulgados sob a ação de aparelhos obsediantes colocados pelos espíritos realmente trevosos. Acreditamos sim, que na nossa intenção sincera, teremos auxílio dos nossos guias, dos espíritos amigos e familiares, de muitos e muitos espíritos que irão simpatizando com nossa conduta e na tentativa de corrigirmos nossas falhas, e que estarão ao lado nos intuindo e ajudando. Serão espíritos em evolução que já distinguem o Bem do Mal, já compreendem a Lei de Ação e Reação, mas espírito BOM, não significa espírito de LUZ, no sentido de PERFEIÇÃO. Talvez, o grande Mestre de Lion também tivesse esta aguda percepção, e tenha utilizado com maestria o termo "Bons espíritos", pois ele mesmo afirma que a mediunidade não implica necessariamente relações habituais com os espíritos superiores.

É necessário então ler com cuidado, e compreender cada termo, cada palavra, para não colocar entendimentos errados na escrita de Allan Kardec. De acordo com o "O Livro dos Espíritos", temos os espíritos bons, ou de 2a. classe: Suas qualidades e poderes para fazer o bem dependem de seu grau de adiantamento:

- Uns são avançados em ciência, outros em sabedoria e bondade;
- Os mais adiantados aliam o saber às qualidades morais;
- Compreendem Deus e o infinito e já gozam de felicidade dos bons;
- São felizes pelo bem que fizerem e pelo mal que impedem;
- Não experimentam ódio, rancor, inveja ou ciúme e fazem o bem pelo bem.

São Espíritos Bons ou de 2a. ordem:

Espíritos benévolos; Espíritos de ciência; Espíritos de sabedoria; Espíritos superiores.

Creio que esta divisão por ordens tem criado barreiras de preconceitos dentro de Casa Espírita, pois muitos temem e não permitem em hipótese alguma que espíritos da 3a. ordem ou inferiores se manifestem. O problema é que em muitas obssessões, o espírito obssessor força uma acalmia, e uma grande ilusão que é um espírito superior, quando o que faz é criar uma situação séria e perigosa de dependência e subjulgação.

Além disso, levam para o mundo espiritual as convenções sociais do dia a dia, não admitindo uma vestimenta fluídica de indígena, preto velho, um Zé Pilintra, considerando-os pouco evoluídos porque escolheram se manifestar assim.

Uma coisa é certa, estamos num mar de energias, e nossa ambiência não é das melhores, mesmo após milênios de reencarnações. Somos confortados o tempo todo com espíritos conflitantes e mesmo maus. Principalmente se lutamos nas fileiras do Bem, seremos mais assaltados do que nunca pelos que ainda se equivocam com a ilusão criada pelo inimigos da Luz. Devemos estar atentos, mantendo a busca do conhecimento interno, não desenvolvendo problemas de consciência, apegos ao nosso passado de erros, aceitando como dádiva a benção de poder trabalhar no auxílio, e não mais como pedintes. Devemos cultivar a oração diária, a meditação, os bons pensamentos e a compreensão de si, antes de compreender os outros, ou julgá-los desnecessariamente.

Ser Bom Médium, é um bom mediador das coisas da terra, e das coisas do outro lado, mantendo-se sereno, firme, fervoroso, inabalável, mesmo consciente de suas falhas e tropeços. Não é aquele que procura ser excessivamente puro, casto e além de sua condição humana, mas o que tem a consciência de sua imperfeição, e prossegue, buscando a Paz e a Harmonia para si e para todos ao redor.

Texto de Alex de Oxóssi (Rio Bonito/RJ)

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